Cotidiano

Uma história de 34 anos em sala de aula

Desafios e recompensas motivam docente de Matemática a continuar lecionando mesmo após aposentadoria

Cascavel – Há 34 anos Elaine Seibert representa uma categoria que, segundo ela, “enfrenta um leão por dia”. A expressão popular se refere aos desafios que os professores, especialmente os da rede pública de ensino, têm de lidar diariamente. “É muita coisa que acontece. Faltam investimentos por parte do governo do Estado, há ainda o envolvimento dos jovens com as drogas, a falta de interesse dos pais em participar da vida escolar dos filhos transferindo toda a responsabilidade aos professores, enfim, são vários os desafios”, relata.

Elaine tem a difícil missão de ensinar matemática a estudantes do Ensino Médio. Agora, prestes a se aposentar, vive um dilema: ela não consegue se ver longe fora das salas de aula. “Ano que vem já posso me aposentar, mas não vou poder largar tudo de uma vez. O desligamento terá de ser aos poucos, pois me acostumei a uma rotina e fica complicado interrompê-la”, tenta explicar. Ela é professora no Colégio Estadual Professor Victorio Emanuel Ambrozino, no Parque Verde, em Cascavel.

O dia a dia corrido e cheio de afazeres, segundo ela, é uma de suas paixões, mas seus olhos brilham quando ela relata encontros com ex-alunos hoje bem posicionados e bem-sucedidos. “É muito gratificante quando alguém te reconhece na rua e te chama de professora. Fico ainda mais feliz quando sei que essa pessoa seguiu a vida acadêmica, tem uma profissão e que eu ajudei nisso”, confessa.

Menores encaminhados pela Justiça exigem ainda mais dedicação

Mas se ensinar matemática a uma turma de adolescentes já deve ser difícil, imagine lidar com jovens em conflito com a lei ou situação de risco social. Por isso, a dificuldade em largar o giz e o apagador já no ano que vem está relacionada a um trabalho feito com muita dedicação e empenho de todos os professores do colégio, incluindo Elaine.

A docente conta que constantemente são encaminhados, por meio de determinação judicial, menores que ainda não concluíram o ensino fundamental ou o médio e estavam fora da escola. Na maioria das vezes, conflitos familiares ou envolvimento com drogas envolve o mundo desses jovens. “O juiz nos encaminha esses menores e tentamos fazer o nosso trabalho, que é ensinar. É uma situação bem difícil, pois geralmente o desempenho deles está abaixo dos demais alunos por conta de inúmeras situações, e nem sempre eles estão ali porque querem, mas porque a Justiça assim determinou”, explica.

Elaine lembra de um momento em que apenas um “olhar diferente” – como ela mesmo denomina – resultou em uma pequena, mas importante transformação: “Teve um dia em que entrei na sala de aula e havia um aluno encaminhado pela Justiça. Quase sempre ele não se interessava pela disciplina e até fazia ameaças a mim e aos demais estudantes. No entanto, naquele dia pensei: ‘por que não olhar diferente a este menino?’ E foi aí que, ao fazer isso, ele me retribuiu de maneira positiva e durante os 50 minutos que estava dentro da sala, o aluno conseguiu participar das atividades, ao contrário do que acontecia nos outros dias”, emociona-se. Para a professora, esse pequeno gesto foi uma grande conquista.

Origem da data

Você sabe por que hoje é o Dia do Professor? A origem da data se deve ao fato de o Imperador Dom Pedro I ter instituído um decreto que criou o Ensino Elementar no Brasil, em 1827, com a criação das escolas de primeiras letras em todos os vilarejos e cidades do País. Além disso, o decreto estabeleceu a regulamentação dos conteúdos a serem ministrados e as condições trabalhistas dos professores.

Tempos depois, em 1947, o professor paulista Salomão Becker, em conjunto com três outros profissionais da área, teve a ideia de criar nessa data um dia de confraternização em homenagem aos professores e também em razão da necessidade de uma pausa no segundo semestre, até então muito sobrecarregado de aulas. Mais tarde, em 1963, a data foi oficializada pelo Decreto Federal 52.682.