Cotidiano

Um abrigo para as noites de frio

Neste Dia da Caridade, celebrado hoje, algo para se refletir. O inverno congelante do início desta semana tem noites menos frias para quem consegue abrigo, cobertor e comida quentinha no Albergue Noturno André Luiz, no Parque São Paulo em Cascavel.

O desabafo que quem precisa de um lar acolhedor, mesmo que provisório e sem ser o dono da cama onde dorme, revela a angústia que seria se tivesse que passar as noites geladas nas ruas. “Eu sou muito bem tratado aqui. Esta estrutura é excelente e nem sei como agradecer pelo que fazem pela gente”, fala o argentino que vive no Brasil há mais de 40 anos, Daniel Marianao. Aos 68 anos de idade e pela segunda vez hospedado no albergue, o aposentado veio da Bahia para fazer uma cirurgia oftalmológica na cidade. Sem parentes, amparo e dinheiro para pagar um hotel, encontrou ali um lar momentâneo e de satisfação. “Esta é a segunda vez que fico aqui e não posso reclamar de nada, só agradecer e elogiar”.

A rotina no albergue começa cedo. Todos acordam perto das 6h, tomam o café e muitos vão para a rua em busca de emprego ou mesmo para trabalhar. O local que chega a abrigar mais de 70 pessoas em noites geladas como as vistas nos últimos dias, funciona 24 horas por dia, durante sete dias da semana. Há os que ficam ali de forma permanente. São os acamados, idosos ou pessoas com deficiência física que não tiveram a sorte de ter uma família que os acolhesse.

Segundo a coordenadora da casa, Valdemira BIbiano da SIlva, há 30 anos sua realidade e rotina são essas: se dedicar ao acolhimento.

Por mês a casa precisa em média de R$ 40 mil para se manter, R$ 35 mil vêm de um convênio com o Município. “Mas em períodos de frio extremo, não deixamos de atender quem precisa e, por isso, não fechamos as portas àqueles que vêm bater. Para estes, precisamos de complemento de recursos para bancar as despesas”, afirmou.

Quem pode entrar?

Mas no albergue, todos podem entrar? Não. Há uma lista com nomes daqueles que não são bem-vindos. Segundo a psicóloga Fabiane Fauth, são usuários de drogas e álcool e que ficam agressivos sob o efeito de entorpecentes. “Não temos como receber estas pessoas e deixá-las no convício de todas as outras, colocando-as em risco. São pessoas que já bateram nos funcionários, nos outros abrigados, quebraram as coisas, nos ameaçaram. Não temos segurança e estrutura para colocá-los com os demais. Temos aqui muitos acolhidos que trabalham o dia todo e que precisam dormir à noite, descansar, não podemos ficar com as que colocam todas as demais em risco e que tumultuam a rotina da casa”, esclarece.

Ela lembra ainda que, todas as vezes que estas pessoa chegam ao abrigo e que estão alteradas, o convencional é chamar o Samu e a Polícia Militar para que as levam ao Centro Pop, especializado neste tipo de atendimento e com estrutura para isso.

De modo geral os moradores de rua não procuram o abrigo com frequência. No dia que a reportagem esteve lá, apenas dois estavam sendo acolhidos para pouso, banho e refeições. “Geralmente os moradores de rua permanecem nesta situação, querem dormir na rua porque assim têm mais liberdade”, complementa a psicóloga.

Apesar dos recursos vindos do Município quase suprirem as necessidades mensais, a psicóloga e a coordenadora reforçam o apelo já que no frio a demanda aumenta. “Temos capacidade para 50 atendimentos, mas já chegamos a atender 70 pessoas e para estas temos que bancar as despesas. Não temos como deixar alguém batendo na nossa porta e não recebê-la”, afirma a coordenadora ao lembrar que há casos de mães com crianças buscando apoio. “Há algumas semanas estávamos com duas crianças aqui no abrigo, mas agora elas já não estão mais conosco”, completa.

Para quem quiser fazer doações, o albergue precisa de roupas de cama, cobertores, roupas masculinas e alimentos em geral.

Ele fica na Rua Dr. Sandino Erasmo de Amorim, 1984, no Bairro Parque São Paulo. O telefone para contato é o (45) 3038-8047.