A constatação de que a maioria da droga que entra pela região de fronteira pela BR-277 é destinada a abastecer o crime organizado dos grandes centros é cada vez mais reforçada pelas forças de segurança a cada grande apreensão. Apenas a delegacia da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Cascavel cobre 814 quilômetros de rodovias federais em 29 municípios com seis postos e, por ser a principal rota da fronteira com o Paraguai, a BR-277 é palco de constantes apreensões.
No balanço divulgado esta semana pela PRF um dos itens que mais chamaram a atenção é o da apreensão de cocaína, com crescimento de 4.428% de um ano para o outro, totalizando mais de 2 mil toneladas em 2018.
Segundo a PRF, os números dificilmente apresentam uma lógica e podem variar bastante de um ano para o outro sem seguir tendência alguma.
O inspetor Antônio Gradin, da PRF de Cascavel, diz que há muitas variantes que interferem diretamente nos resultados do trabalho da polícia: “De ano em ano pode ser que acumule uma diminuição razoável, mas aí acontece uma apreensão grande e pronto: acabou a estatística. A variação dos números não tem muita explicação, até porque o policial abre a carga e não sabe o que pode ter lá, pode ser maconha, podem ser eletrônicos…”
Conforme o inspetor, o transporte de cocaína é feito em volumes menores, até porque a droga é mais cara, por isso o grande volume apreendido ano passado surpreende: “Por ser uma droga mais cara, quem leva cocaína leva em pequenas quantidades. Geralmente cinco ou 10 quilos. A maior parte das apreensões que a delegacia fez foi em volumes pequenos e geralmente são resultado de abordagens de rotina”.
Rotas mudam o tempo todo
Embora a região oeste seja rota do tráfico e do contrabando, nem sempre os bandidos utilizam exatamente o mesmo percurso. Por isso que a queda de 22,5% no volume de maconha apreendida ano passado em comparação a 2017 não significa que caiu o transporte da droga. Indica apenas que os traficantes usam outras rotas ou até outras estratégias.
Segundo o inspetor Antônio Gradin, da PRF, enquanto no Paraná houve queda de apreensões de munições, cigarros e armas de fogo, no Mato Grosso do Sul esses mesmos itens cresceram. Ou seja, “o tráfico funciona como uma empresa e não quer perder seu lucro. Se a gente for pensar como o traficante pensa, ele perdeu 20 toneladas em determinada rota no ano de 2018, no próximo ano ele obviamente vai enviar a droga por outro lugar”, sugere.
O inspetor afirma ainda que a PRF já investigou e confirmou casos em que um contrabandista viajava praticamente mil quilômetros a mais, passando pelo Mato Grosso do Sul, apenas para desviar a rota da BR-277 para evitar o flagrante.
Comparativo de apreensões feitas em 2018
Produto Paraná Mato Grosso do Sul
Armas de fogo 142 unidades (-49%) 123 (+48%)
Carteiras de cigarro 18,4 milhões (-15%) 38,7 milhões (+21%)
Munições 20.723 (-51%) 24.719 (+47%)