Cotidiano

Sindicato alerta para fuga em massa

Cascavel – O sábado amanheceu aparentemente calmo nos arredores da PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel), mas logo nas primeiras horas do dia veio a informação de que, durante a noite, centenas de presos teriam fugido da unidade que estava cercada por pelo menos 200 policiais. (Leia mais na página A4 desta edição)

Para o advogado do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná) Jairo Ferreira Filho, tudo indica que pode ter havido falha na vigilância feita pelos policiais. “Não permitiram que os agentes ficassem perto e os agentes sabiam da existência de um túnel. Acreditamos que dezenas, centenas deles fugiram por ali”, disse, ainda pela manhã.

A rebelião chegou ao fim após 44 horas de medo, violência e destruição. Os próximos dias devem ser intensos na movimentação com o sindicato. O advogado não descarta entrar ainda neste domingo com um mandado de segurança preventivo contra o Estado para resguardar a vida e a integridade dos agentes, caso o Depen (Departamento Penitenciário do Paraná) opte por manter os presos dentro da PEC, mesmo ela estando totalmente destruída. Nesse caso, pode-se pedir que a Polícia Militar assuma os trabalhos na penitenciária.

Sindicato vai convocar agentes para assembleia

Em tom de desabafo, a presidente do Sindaspen, Petrusska Niclevisk Sviercoski, fez exatamente este questionamento ao Estado durante sua conversa com a imprensa, ao saber do fim da rebelião: “A direção vai ter que levar para algum lugar esses presos, mas para onde, se não há vagas e todos os presídios estão superlotados? Quantos outros agentes vão ficar reféns dessa situação? Quantos presos vão morrer e quantas unidades vão entrar numa rebelião por conta disso?”

Nos próximos dias uma assembleia geral será convocada com todos os agentes no Paraná para decidir os próximos passos a serem dados, no sentido da cobrar as responsabilidades do governo do Estado. “Isso o que aconteceu aqui não foi uma fatalidade, não foi um caso isolado, essa foi uma situação proposital e nenhuma providência foi tomada. Hoje, no Paraná, há um déficit de 1,6 mil agentes, há carência de estrutura física, precisaria de mais treinamentos para esses trabalhadores, contratar mais e automatizar o acesso às unidades prisionais para diminuir o contato com o preso, precisa dar instrumentos para que os agentes tenham menos riscos”, reforçou, ao lembrar que, no momento da rebelião, por volta das 15h da última quinta-feira, 30 agentes estavam de plantão, num presídio com quase mil presos.

“Somente na PEC seriam necessários 60 agentes por plantão, ou seja, o dobro”, completou, ao lembrar que o primeiro agente feito refém cuidava sozinho de quatro postos ao mesmo tempo.

“Rebelião começou com a primeira marretada no cadeião”

Para o advogado do sindicato dos agentes Jairo Ferreira Filho, tudo isso representa uma tragédia mais que anunciada: “Essa rebelião começou na primeira marretada da 15ª SDP [dada pelo governador Beto Richa em dezembro do ano passado] com a transferência dos presos que estavam lá para a PEC mesmo sem a contratação de agentes e estruturação necessária para isso. Alojou-se mais e mais presos em um espaço que já estava defasado”.

Para destruir a PEC os presos utilizaram maquitas e marretas. “O que deve se seguir agora é um protocolo pós-rebelião e apurar as responsabilidades, mas sabemos que com os verdadeiros responsáveis nada acontece, que corresponde à gestão [governador Beto Richa], é ele quem decide sobre a segurança, mas os atingidos são os servidores que carregam o piano o tempo todo (…) o único culpado é o Estado e os gestores do Depen no Paraná. Quem dá o mau tratamento é o Estado, quando o agente nega o atendimento é porque não tem o atendimento para fornecer porque o Estado não cria esta condição”, lista.

Em entrevista à CBN na sexta-feira, em Maringá, o governador Beto Richa disse que o sistema prisional no Estado é modelo e que quando assumiu o governo havia 16 mil presos em cadeias públicas e que agora restam apenas 9 mil. Disse ainda que estão sendo edificas no Paraná mais de 20 unidades prisionais. Segundo o governador, agora apuradas as responsabilidades e as falhas.

De fato, Beto Richa prometeu construir 12 unidades prisionais e abrir 6.670 vagas. Pelo que se sabe, o primeiro presídio deve ser inaugurado apenas ano que vem, enquanto todas as cadeias públicas estão com três ou quatro vezes mais presos que sua capacidade e as penitenciárias já abrigam mais que poderiam.