Cotidiano

Quando a chuva vem...

Hoje, apesar do avanço da pavimentação das ruas da cidade de Cascavel, uma pequena parcela ainda não recebeu a infraestrutura. E a situação não é fácil quando a chuva resolve não dar trégua.

São famílias que não conseguem sair da própria casa porque o barro tomou conta de tudo. Situação que atinge dezenas de pessoas que vivem no Bairro 14 de Novembro.

Há 20 anos essa é a rotina da família de Antonia da Rocha. Quando chegou ao bairro, em 1998, acreditava que em breve a infraestrutura também chegaria. No entanto, duas décadas depois a situação é a mesma. Em decorrência das chuvas dos últimos dias e de uma galeria pluvial improvisada há dois meses pela Prefeitura de Cascavel, a lama já bate à porta da residência de Antonia. Ela comenta que, se não parar de chover até o fim da semana, ninguém mais sairá de casa.

O carro já está estacionado de maneira estratégica para evitar que fique atolado em meio ao barro. “A gente já se acostumou com isso e mesmo reclamando nada é feito”, diz a moradora.

A filha adolescente também sofre. Para ir à escola, a estudante faz um trecho a pé até chegar ao ponto de ônibus. O trajeto, de cerca de 400 metros, é feito com sacolas de plásticos envoltas nos calçados. “Por enquanto ela ainda consegue ir à aula. Mas se continuar chovendo assim a gente nem sai daqui”, lamenta a mãe.

Antonia já perdeu a esperança de que o asfalto chegue às famílias do 14 de Novembro e está disposta a vender a casa onde mora: “O que resta é mudar de endereço”.

Risco de desabamento

Quem vive à mercê da sorte é a dona de casa Nair Marques da Silva, que há 30 anos mora na Rua Vitorio Araújo, no Bairro 14 de Novembro. Ocorre que ao lado de sua residência há uma situação de risco iminente de desabamento. Ela conta que já não se assusta mais quando o tempo fecha e a chuva vem, porém, não descarta a possibilidade de os muros de sua casa não suportarem a força da natureza: “Estou aqui há bastante tempo e sempre foi assim. A água desce, chega à rua, o barro vem junto, mas graças a Deus nunca aconteceu nada comigo”.

O problema se agrava com o descaso da própria população. Isso porque a enxurrada traz junto lixo descartado de forma irregular. Bem perto da residência de Nair há sofás, restos de materiais de construção e muita sujeira. “Quando chove, tudo isso vem cada vez mais perto de casa”.

O problema mais grave atinge o filho de Nair. Ele é cadeirante e é impossível passar pela rua com barro. A cadeira afunda na lama e as rodas travam. Para sair de casa, ele vai se arrastando até a garagem, coloca a cadeira dentro do carro, e sai dirigindo. “De outra forma é impossível”, ressalta a mãe.

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Sem respostas

A Prefeitura de Cascavel foi procurada para informar se há projeto para asfaltar essa área do Bairro 14 de Novembro, mas não houve retorno.

Reportagem: Marina Kessler

Fotos: Aílton Santos