Policial

Presos tomam conta da PEC

Ao menos um preso foi morto; três agentes foram feitos reféns e um deles foi liberado para atendimento médico, após ser agredido

Cascavel – Pelo menos uma pessoa morreu e um agente penitenciário ficou gravemente ferido na rebelião na PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel). O motim teve início pouco antes das 16h, quando os presos tomaram conta da unidade prisional.

Segundo apurado pela reportagem, os presos estavam no solário, durante banho de sol, quando fizeram pirâmide humana para escalar as paredes para fugir. Agentes atiraram para coibir a fuga, mas os presos subiram para o telhado e tomaram as três alas da PEC.

Do alto do telhado, presos afixaram cartazes com a inscrição PCC (Primeiro Comando da Capital), assumindo a autoria do motim.

Aos gritos, flagrados pela reportagem de O Paraná, os presos pediam água, comida, um aparelho celular e a presença do juiz da VEP (Vara de Execuções Penais), Paulo Damas, para apresentar suas exigências. Ainda do telhado, eles exibiam pelo menos duas cabeças. A reportagem apurou que um dos mortos seria um “duque”, preso acusado de estupro.

Diversas viaturas da Polícia Militar, inclusive o Pelotão de Choque, e o SOE (Setor de Operações Especiais) foram mobilizadas para tentar conter os presos e evitar fuga. O acesso à Penitenciária foi fechado e, nas margens da BR-277, familiares dos presos se aglomeravam à procura de informações. A preocupação era o constante barulho de tiros e bombas disparados pelos policiais para evitar que os detentos fugissem do local.

Sem informações

Tanto os familiares quanto a imprensa ficaram sem informações oficiais. De acordo com o responsável pelo setor de relações públicas da Polícia Militar de Cascavel, Roberto Tavares, a dimensão da rebelião só poderá ser medida após ser encerrada. “Não sabemos a origem nem se presos fugiram, mas equipes de apoio foram solicitadas e o Bope [Batalhão de Operações Especiais] de Curitiba está vindo para Cascavel fazer as negociações”, disse, no início da noite.

Segundo o oficial, os detentos queimaram colchões e quebraram telhado. “A intenção é encerrar o motim no menor tempo possível, as negociações já começaram a ser feitas, estamos tentando conversar para evitar maiores danos”.

Em nota, o Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná) confirmou que três agentes foram feitos reféns. Nas primeiras horas do motim, um deles, bastante ferido, foi liberado pelos presos e atendido por socorristas do Siate (Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência). Ele foi identificado preliminarmente como Sérgio e, em estado grave, foi levado para o Hospital Universitário. No início da noite, familiares que estavam em frente à entrada da unidade prisional fecharam a BR-277.

A capacidade da PEC é para 1.160 presos e ontem havia 980. A penitenciária foi reformada após a rebelião de 2014 e entregue em novembro de 2016. Foram investidos pouco mais de R$ 1 milhão na obra.

Rebelião de 2014

Faz pouco mais de três anos que a PEC foi alvo da mais sangrenta rebelião da sua história. Em agosto, presos renderam os agentes penitenciários. Durante mais de 45 horas, os amotinados mataram cinco pessoas e deixaram outras 25 pessoas feridas; 80% da estrutura da unidade foi destruída.

 

Rebelião foi articulada pelo PCC

O advogado Moacir Ferrari estava na penitenciária atendendo clientes quando a confusão começou. “Percebi uma movimentação estranha durante um isolamento de preso, onde um deles estava bem alterado. Mas não foi isso que motivou a rebelião, nem superlotação, porque nisso há um controle. Já havia informações que isso iria acontecer há uns quatro dias, a direção sabia, por conta da falta de estrutura da penitenciária e o tratamento que eles dão aos presos. Levam pior do que um animal selvagem”, disse.

Estado devia ter retirado “muralhas” irregulares

Cascavel – As muralhas que circulam a PEC (Penitenciária Estadual de Cascavel), por onde os presos tiveram acesso aos agentes, são um problema antigo na unidade.

Em entrevista concedida há alguns meses, o tenente-coronel Washington Lee Abe, responsável pelo 5º CRPM (Comando Regional de Polícia Militar), disse que na rebelião de 2014 ele era comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e teve bastante dificuldade para acessar a unidade. Por conta disso, assim que assumiu o comando do 5º CRPM solicitou ao governo do Estado que a reforma da PEC contemplasse a construção de um muro externo para que os agentes e os policiais que trabalham no local não tivessem acesso aos presos nem os presos a eles. “Encaminhamos um ofício e nos foi dado prazo de 30 dias. Porém, passados meses nada foi feito. A reforma foi concluída e os servidores continuam passando por dentro da PEC para conseguir trabalhar”.

 

Familiares fecham rodovia BR-277

Cascavel – Aglomerados às margens da BR-277, familiares dos presos cobravam informações a respeito dos amotinados e, em protesto, fecharam a rodovia. Eles fizeram uma fogueira e invadiram a pista.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) tentou várias vezes negociar a liberação da pista, mesmo que temporariamente, mas sem sucesso. Os policiais ameaçaram autuar duas mulheres que estavam à frente do protesto, mas nem mesmo assim a pista foi reaberta.

Por volta das 21h, o congestionamento nos dois lados da pista já ultrapassava 5 quilômetros, quando houve a liberação do tráfego.