Policial

PF e FBI monitoram 100 suspeitos na fronteira

Grupos estão ligados a diversas células extremistas e bancam alguns políticos brasileiros

Cidade do Leste – Sancionada em março de 2016, a Lei 13.260, chamada de Lei Antiterrorismo, até parecia não fazer muito sentido em um país sem históricos de ataques dessa natureza, mas bastaram três meses de sua publicação para a realização da primeira operação, denominada pela Polícia Federal na época de Operação Hashtag. E, agora, parece que a lei tem pelo menos “100” motivos para existir, ao menos na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai.

Concretizada duas semanas antes dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro, ela levou para trás das grades dez suspeitos de planejar ataques terroristas no Brasil naquele período, inclusive paranaenses, sob a alegação de que parte dos suspeitos tinha vínculos com o EILL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (também conhecida pelos acrônimos na língua inglesa ISIS ou ISIL). A denúncia na época reforçava que alguns deles haviam, inclusive, feito juramentos às células e aos seus califas.

Em maio do ano passado os réus tiveram sentença proferida pela 14ª Vara Federal de Curitiba e os oito condenados apelaram ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, sob a alegação de que as sentenças estavam baseadas em suposições e indícios. O julgamento da apelação está suspenso, desde o mês passado, para reanalise após uma desembargadora pedir vistas.

O que levou a Polícia Federal até o grupo foram publicações em redes sociais e conversas em grupos de aplicativos onde a acusação alegava a incitação, a promoção e a indicação da presença de todos em grupos terroristas.

Em abril de 2018 a lei serviu como base, mais uma vez, para denunciar suspeitos no Brasil de envolvimento com células terroristas. A nova operação da PF foi denominada Átila. O Ministério Público em Goiás apresentou denúncia contra 11 pessoas suspeitas de promoção e organização terrorista no Brasil e o modo de atuação era similar, segundo a denúncia, do grupo denunciado ainda em 2016, além dos indícios de recrutamento de outros membros, alguns menores de idade. As duas operações se cruzam quando vídeos do Estado Islâmico consideravam a morte de um refém por dia caso os presos da Operação Hashtag, lá de 2016, não fossem soltos.

Parte das informações recebidas sobre esse grupo se deu via Embaixada da Espanha no Brasil após investigações de terroristas naquele país indicarem interlocutores aqui.

As operações já realizadas e a lei que vigora há dois anos voltam os olhos para as regiões oeste e sudoeste do Paraná, em cidades da fronteira com o Paraguai e a Argentina.

Com base nela, estão sendo monitoradas, neste momento, pelo menos 100 pessoas que vivem na Tríplice Fronteira, na região de Foz do Iguaçu. Os passos de todos vêm sendo acompanhados de perto tanto pelo FBI (Federal Bureau of Investigation), quanto pelo DAT (Departamento Antiterrorismo) da Polícia Federal brasileira. Vale ressaltar que FBI e DEA (Drug Enforcement Administration – órgão norte-americano de combate ao narcotráfico) também ficaram bases na fronteira do Brasil com o Paraguai.

Segundo o apurado com exclusividade pela reportagem do Jornal O Paraná, o grupo ligado ao terror é composto por brasileiros e estrangeiros, aliás, a maioria não tem nacionalidade brasileira e os grupos possuem ligações com vários núcleos extremistas naquilo que as forças de segurança denominam de “islamização do radicalismo”.

Dinheiro para grupos extremistas

A característica dos radicais que vivem na região oeste do Paraná se difere dos presos das duas operações já realizadas no Brasil. Eles não têm a missão de promover o terror com atentados, não têm características de homens-bomba nem a meta de capturar pessoas. A função aqui, com ligação estreita de negócios com Cidade do Leste e Salto Del Guairá, no Paraguai, é capitalizar as células terroristas. Ou seja, levantar dinheiro.

Aliás, com frequência a investigação tem identificado a presença de políticos – muitos deles influentes no cenário nacional brasileiro – transitando nesse entorno e alguns muito próximos dos núcleos terroristas. Há, inclusive, investigações em curso que indicam um possível financiamento desses políticos pelas células terroristas.

Quanto à capitalização dos terroristas na região, ela tem se dado pela proximidade do oeste e do sudoeste do Paraná com o Paraguai, onde esses negócios são articulados. Os terroristas que vivem do lado de cá da fronteira “caçam” o dinheiro para enviar ao comando extremista nos califados árabes a partir do contrabando, principalmente de cigarros, tráfico de drogas, armas e munições.

Características

Segundo as investigações, a característica desses suspeitos de envolvimento com o terrorismo revela que são homens sem famílias perto, vivem sozinhos e levam vidas discretas. “Mas a situação na fronteira é muito preocupante. No Brasil existe muito mais gente com ligações terroristas do que se possa imaginar. A situação é considerada crítica”, afirma uma fonte ligada às forças de segurança nacional.

Parceria com facções

Parte desses terroristas, sobretudo os ligados ao Hezbollah, estão muito próximos de uma das maiores facções criminosas brasileiras que agem dentro e fora dos presídios e que tem no Paraná sua segunda maior casa, atrás apenas de São Paulo, onde o grupo classificado como célula terrorista nasceu. Esse entrosamento está pautado na troca de experiências, de informações e de “especialização” para o crime.

A facção auxilia na captação de recursos a partir das ações ilícitas como o transporte de contrabando, drogas e armas e o grupo de fundamentalismo contribui ensinando técnicas de guerrilha e dando acesso às armas.

O monitoramento dos grupos tem aumentado nos últimos anos, mas registros históricos revelam que a região, sobretudo de Foz do Iguaçu, conta com a presença de fundamentalistas religiosos há mais de 30 anos. A justificativa está na facilidade de fixação dessas pessoas ali, levando em consideração a imensa comunidade árabe naquele entorno.