Policial

O Paraná na rota do crime organizado

Enquanto a PF fecha o cerco em outras partes do País, PCC expande suas raízes

Cascavel – Se você é atento ao noticiário policial já deve ter percebido que, com frequência, o Paraná aparece como protagonista em alguns atos de violência extrema. Não por acaso, o Estado se evidencia como um importante trecho para o contrabando do cigarro paraguaio onde hoje, pela sua rota bem traçada e viciada com a corrupção de muitos agentes de segurança, seguem também carregamentos de drogas, armas e munições vindas do Paraguai especialmente para abastecer o crime organizado, e até mesmo alimentar as guerras de facções, em estados como Rio de Janeiro e São Paulo.

Há quase duas décadas uma das maiores facções criminosas – que já é considerada por algumas forças de segurança nacional e internacional como grupo terrorista – tem se instalado e enraizado cada vez mais no Paraná.

O PCC (Primeiro Comando da Capital) ainda era uma criança – sem nada de inocente – quando um de seus maiores membros, o Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi trazido para cumprir pena na penitenciária de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Na época, os presídios federais nem sequer eram projetos e surgiram exatamente após uma ação protagonizada e orquestrada pelo próprio PCC com a morte, por encomenda, de um juiz federal em 2003 seguida por uma onda de atos de terror.

Era o início do século e de uma história com o estado que hoje é a segunda maior casa da facção. Com a prisão de Marcola e de outros membros do grupo, vieram os parceiros para pontos estratégicos do Paraná, especialmente a região de Cascavel.

Instalação de dirigentes locais

O Paraná aparece hoje como a segunda maior casa do PCC no Brasil. A principal residência continua sendo o estado de São Paulo, onde a facção nasceu em 31 de agosto de 1993, no Anexo de Casa de Custódia do Taubaté. Também conhecido na época como o Partido do Crime, surgiu para “combater a opressão no sistema prisional”, além da vingar o massacre de 111 presos mortos pela Polícia Militar no que ficou mundialmente conhecido como o massacre do Carandiru, em 1992.

Teve como seus principais fundadores Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, José Márcio Felício, o Geleião, e Cesar Augusto Roriz, o Cesinha.

Os dois últimos assumiram o comando do grupo depois que Sombra foi morto na cadeia, espancado numa briga interna pelo comando da facção.

Numa ação mais terrorista, esse novo comando acabou sendo deposto pouco tempo depois e quem assumiu foi Marcola. A partir daí o PCC passou a ter também uma visão mais empresarial dos negócios. Preso logo em seguida, Marcola foi trazido para cumprir pena no Paraná e trouxe com ele filiados do Primeiro Comando da Capital. Tem início aí o enraizamento do PCC no Estado e a capilaridade se espalhou com rapidez. Hoje há núcleos bem estabelecidos em cidades como Maringá, Londrina, Cascavel, Região Metropolitana de Curitiba e, claro, cidades muito próximas da fronteira com o Paraguai, especialmente na Costa Oeste.

“O Paraná é hoje o estado mais importante para o PCC depois de São Paulo. O grupo controla daqui outros estados. Há muitos dirigentes locais vinculados ao Paraná e não mais a São Paulo. É como se o PCC tivesse terceirizado para o Paraná esse controle”, afirma o delegado-chefe da Delegacia da Polícia Federal de Cascavel, Marco Smith.

Paraguai

O delegado da PF lembra que a presença da facção em cidades próximas ao Paraguai sempre foi algo bastante almejado pelo Primeiro Comando da Capital para facilitar o acesso a drogas, armas e munições, que entram no Brasil pelo país vizinho. “O PCC sempre tentou colocar seus cabeças na fronteira e quando o Marcola assumiu [o comando do PCC], ele teve uma visão mais empresarial de expandir os negócios. Em Foz do Iguaçu eles sempre tiveram dificuldades para entrar por conta da comunidade árabe que domina ali e Cidade do Leste, no Paraguai. Em Guaíra, por conta das famílias mais tradicionais, então eles marcam presença em Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, em algumas cidades à beira lago [de Itaipu], em Londrina, em Maringá e em Cascavel”, lista.

“Alguns de seus cabeças estão [presos] em Piraquara e em Catanduvas. A Cidade Industrial é um grande polo do PCC. Mas os membros que estão no Paraná são para operacionalizar os serviços, são os filiados, aqueles que fazem suas contribuições mensais para ajudar a manter a facção. Vale lembrar que quanto mais alta a hierarquia, menos se paga ou só usufrui daquilo que a facção pode oferecer”, acrescenta.

No Paraná, os faccionados ficam encarregados, por exemplo, de operacionalizar o tráfico de drogas, de armas e de munições. Da região oeste, principalmente Cascavel, é feita a distribuição desses produtos para outros cantos do País, alimentando a facção que hoje está presente em 22 estados e em pelo menos cinco países.

RECORDE

Em 2017, PF “toma” do narcotráfico R$ 600 milhões em bens

São Paulo – A Polícia Federal bateu seu recorde histórico de apreensões de cocaína e maconha em 2017. Por meio de operações das Delegacias de Repressão a Entorpecentes e do Gise (Grupo Especial de Investigações Sensíveis), a PF tirou de circulação 44,7 toneladas de cocaína e 313 toneladas de maconha. Os números são parte do balanço da CGPRE (Coordenação-Geral de Polícia de Repressão a Drogas).
Embora o número de operações especiais tenha diminuído no ano – 80 em 2017 e 121 em 2016 -, a quantidade de drogas apreendidas representa um recorde dentro da série histórica aferida desde 1995.
O valor de bens apreendidos também superou o ano de 2014, que detinha o recorde com R$ 323 milhões, e alcançou a cifra R$ 591,4 milhões em bens apreendidos pelas ações da PF.
Entre as principais operações realizadas a PF cita a Spectrum, responsável pela prisão de Luiz Carlos da Rocha, conhecido como Cabeça Branca e apontado como um dos maiores “barões da droga” do Brasil.
O traficante foi identificado pelos investigadores mesmo após realizar várias cirurgias plásticas para alterar seu rosto. A identificação foi possível após trabalho de peritos criminais que conseguiram mapear traços faciais do traficante com base em fotografias antigas.
O grupo liderado por Cabeça Branca, segundo a PF, operava com estrutura empresarial e controlava áreas de produção de drogas na selva da Bolívia, do Peru e da Colômbia.
A PF estima que a organização criminosa liderada pelo traficante introduzia cerca de 5 toneladas de cocaína por mês no Brasil por meio de aviões de pequeno porte que partiam dos países produtores, utilizando o espaço aéreo da Venezuela, e pousavam em fazendas brasileiras na fronteira entre os estados do Pará e Mato Grosso.
Outras operações citadas no balanço são a Brabo, realizada em setembro de 2017 por investigadores de São Paulo, que desarticulou uma organização criminosa que atuava na exportação de drogas por meio do porto de Santos.
Com base na Operação Brabo, a PF alertou autoridades da Antuérpia (Bélgica), Shibori (Inglaterra), Gioia Tauro (Itália) e Valência (Espanha) para que interceptassem carregamentos remetidos pelo grupo via porto de Santos.
Em 2017, a PF mais uma vez avançou sobre o grupo criminoso liderado por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Na operação Espístola, em maio, os investigadores descobriram que, mesmo preso no presídio federal em Rondônia, Beira-Mar atuava no comando do tráfico em outros negócios nas comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.