Cotidiano

Logística preocupa e eleva custo de produção

Apesar de insumos já estarem comprados, impacto financeiro será no transporte para trazê-los até o campo

Cascavel – Aquela ideia de que o produtor rural precisa ser o empreendedor do campo nunca esteve tão ligada à realidade econômica como agora. O que há algumas décadas era visto como uma precaução desnecessária, hoje se tornou planejamento e garantia de ganhos ou de minimizar perdas.

A maioria dos agricultores que vai cultivar soja na safra 2018/2019 – somente no oeste do Paraná são cerca de 1,1 milhão de hectares destinados à oleaginosa – comprou os insumos antes da disparada do preço do dólar. Em todo o Paraná, em torno de 40% dos produtores tiraram recursos do bolso e bancaram os insumos ainda no início do ano, logo que venderam a soja da colheita 2017/2018. Os outros 60% se dividem em: metade trocou parte da produção pelos insumos e metade buscou o custeio com financiamentos e agilizou o processo da compra no primeiro trimestre.

Para o economista do Sistema Faep (Federação da Agricultura do estado do Paraná), Jeffrey Albers, poucos foram aqueles que deixaram para adquirir os insumos como sementes, fertilizantes, adubos, produtos e serviços agora. Isso significa que o impacto da supervalorização da moeda norte-americana ante o real – cerca de 20% em menos de um ano – não vai afetar a próxima safra.

Na prática, segundo o Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná), o custo variável de produção da saca de soja no ciclo passado foi de R$ 32,90, e no valor total de R$ 55,41. Em março de 2018, o último levantamento apurado pelo departamento, o custo total havia subido 3% e chegava a R$ 57,14, o que o mercado já esperava, de certo modo.

Mas se o custo de produção não está tirando o sono do produtor, outro quesito está. Segundo o economista, apenas parte dos insumos já está nas propriedades. As cooperativas e as unidades produtoras da região estimam que menos da metade do que será preciso para o próximo cultivo está com o produtor. “Isso depende muito da capacidade de armazenagem do agricultor”, reforça o economista.

Há uma parcela desses itens nas distribuidoras, como cooperativas, lojas e entrepostos, e um volume expressivo, que pode beirar metade dos insumos, que ainda está chegando ao Porto de Paranaguá fruto das importações. “E é por causa desse transporte que vai ter o maior impacto de valores. Esse valor vai onerar bastante o custo de produção”, reforçou o economista da Faep.

Em média, segundo levantamento de cooperativas da região oeste do Paraná, este transporte do porto até a região oeste tem registrado elevação de algo em torno de 55% com base na polêmica tabela de preços mínimos do frete publicada como medida provisória pelo presidente Michel Temer no dia 30 de maio passado, atendendo a uma das reivindicações dos caminhoneiros, sobretudo os autônomos, para pôr fim à paralisação que durou dez dias e travou o País.

De olho no custo de produção de 2019/2020

Para o economista do Sistema Faep Jeffrey Albers, se o dólar se mantiver em elevação até o fim do ano e início de 2019, e aqui conta a instabilidade gerada pela condição política em ano eleitoral e pela indefinição de quem será eleito, o produtor será beneficiado pelos bons preços para a venda da soja. Vale lembrar que sua cotação sofre variações pela Bolsa de Chicago.

“Isso significa que, se o dólar seguir alto, o produtor vai ganhar mais pela venda do grão, mas vai gastar mais no custo de produção da próxima safra. Isso significa que ele terá de fazer caixa para bancar esse custo em 2019/2020”, destacou.

A soja no Paraná pode ser cultivada a partir de 10 de setembro, quando se encerra o período de 90 dias do chamado vazio sanitário, período em que fica proibido o cultivo com o objetivo de eliminar plantas que possam ser hospedeiras da ferrugem asiática. A doença, que no último ciclo contou com o registro de mais de 100 casos em lavouras comerciais do Paraná, pode dizimar plantações inteiras.