Policial

Intervenção no Rio deve fortalecer o PCC no Paraná

Facção paulista está em busca de armamento pesado e usa fronteira paranaense com o Paraguai para reforço no arsenal

Guaíra – Sim, o Paraná vai sofrer reflexos, e graves, com a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Apesar de estarem geograficamente distantes, algumas peculiaridades ligam o estado do Sul ao Sudeste brasileiro, mas de uma forma bastante complexa. Vamos à explicação.

Hoje, quem domina o crime organizado no Rio de Janeiro é, especialmente, o Comando Vermelho. Ele tem pouca atuação no Paraná, mas existe a preocupação de alguns líderes possam “espirrar” do Rio e migrar para cá, já que o Exército fechou o cerco ao Estado, principalmente nas divisas com São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. A avaliação é da própria Polícia Federal que está com o seu trabalho de inteligência voltado também para este revés.

No entanto, o delegado-chefe da Polícia Federal em Cascavel, Marco Smith, não aposta numa debandada de criminosos cariocas para o Paraná, mas a observação é extremamente válida: “O carioca é peculiar. Ele não se adapta com facilidade em outras regiões geográficas se não a dele, e ele é facilmente identificado em uma região como o oeste do Paraná pelo sotaque, por exemplo. Então não acredito numa debandada em massa de criminosos, mas um ou outro líder certamente virá. Nada que nos preocupe muito e, para combater isso, temos o trabalho de inteligência”, disse.

Contudo, a preocupação mais latente no Paraná agora é outra. Hoje, o Estado é a segunda casa do PCC (Primeiro Comando da Capital), que domina o crime em São Paulo, estado vizinho ao Rio.

E, vendo a intervenção como uma medida válida para o Rio de Janeiro, o delegado atenta para o possível fortalecimento da facção criminosa mais atuante e presente em São Paulo: o PCC.

Já considerado como grupo terrorista, o PCC surgiu e criou suas principais raízes em São Paulo e se ramificou para o Paraná, devido à proximidade com o Paraguai.

E, com a intervenção no Rio de Janeiro, o Paraná deve aparecer como ponto-chave para a facção paulista em outro quesito: seu fortalecimento quando o assunto é incremento no arsenal, que é buscado no Paraguai e passa pelo Paraná para ser distribuído para o Sudeste brasileiro.

 

 

Tráfico de drogas e armas vai aumentar

Com o combate mais intenso ao crime organizado no RJ e fragilizando, ao menos temporariamente, os grupos ali instalados, a tendência é para que quem estiver fora desse circuito se fortaleça. E onde o Paraná entra? Pela sua extensa fronteira desprotegida com o Paraguai.

É justamente a fronteira do Brasil com o Paraguai, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul, que hoje entra boa parte – se não for a maior parte – das armas que abastecem quase todo o crime organizado brasileiro. “As armas entram vêm de outros países até o Paraguai, e depois são despachadas para o Brasil. Há ainda a rota pela Venezuela e pela Bolívia. Até da Argentina vem alguma coisa passando pela região oeste do Paraná”, reforçou o delegado Marco Smith.

Grupos criminosos como o PCC estão se armando como nunca e para verdadeiras guerras. “Nunca apreendemos e temos visto tantos fuzis. São armas longas para uma verdadeira guerra (…) as facções estão se armando para isso”, alerta o delegado.

E por onde passam essas armas e munições? No caso da região oeste do Paraná, pela rota bem traçada e já viciada do contrabando de cigarros, criada e fortalecida nas últimas duas décadas. Não é novidade para a segurança pública que grandes facções já utilizam o contrabando para se capitalizar e, no meio das imensas cargas de tabaco, transportam armas, carregadores e munições de todos os calibres. “Não é por acaso que a máquina que faz a destruição de cigarros em Foz do Iguaçu é blindada. No meio dessas cargas tem sido muito comum encontrar armas e munições que explodem no momento da destruição dos cigarros”, alertou o delegado.