Cotidiano

Exploração sexual: 20 pessoas da região foram traficadas

Vítimas estariam retidas nas mãos dos traficantes, sem contato com familiares

Reportagem: Juliet Manfrin

 

Quando se fala em tráfico de pessoas, muita gente acredita que isso só acontece em filmes. Mas o crime está muito mais perto que se imagina. Segundo dados da Seju (Secretaria de Estado da Justiça do Paraná), ao menos 24 denúncias revelam o tráfico nacional e internacional de 50 paranaenses. E isso apenas nos três primeiros meses deste ano. Dessas pessoas, pelo menos 20 são da região oeste do Paraná. Dentre elas estão crianças e jovens de 13 a 29 anos, homens e mulheres, levados para todos os cantos do País e do mundo, vítimas da exploração sexual, retirada de órgãos, adoção ilegal – este último caso em situações mais raras por conta da idade das vítimas -, trabalho análogo à escravidão e servidão em geral.

“Geralmente os aliciadores envolvem as vítimas com a promessa de ganhos fáceis, uma vida de luxo, de satisfação, utilizam pessoas próximas como os próprios amigos e familiares para atrair aqueles que serão traficados”, conta a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Estado do Paraná, Silvia Xavier.

Com investigações delicadas e casos de difícil acesso, de todas as pessoas levadas em 2017 apenas duas foram resgatadas e trazidas de volta para casa. “É um trabalho delicado, de muita investigação e nunca é realizado sozinho, precisa sempre do envolvimento de muitas forças de segurança para que dê certo”, acrescenta Silvia.

Cárcere privado

As vítimas de tráfico são mantidas em cárcere privado, com documentos e telefones apreendidos, deixando-as sem contato com o mundo externo, evitando que denunciem o que está acontecendo ou mesmo que falem com a família.

Quadrilha tem sede no Paraná

Investigações em andamento envolvendo diferentes forças de segurança pública do Estado indicam que há pelo menos uma grande quadrilha muito bem estruturada e articulada agindo em todo o Brasil, mas com sede no Paraná. Há aliciadores em todas as cidades de referência, incluindo a região oeste, com ênfase aos municípios de Cascavel, Toledo e Foz do Iguaçu.

E se os dados estaduais já chamam a atenção, uma denúncia recente coloca Cascavel em alerta: quatro cascavelenses estão na lista dos traficados mês passado. Eles ainda não entraram para as estatísticas da Seju, mas, de acordo com apurado pela reportagem de O Paraná, as vítimas são três mulheres e um homem, todos jovens, que foram aliciados por esta quadrilha.

Os dados já foram repassados à Polícia Federal e, por consequência, à Interpol.

Os cascavelenses teriam sido levados à Europa e a denúncia indica o tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.

Por questões de segurança, a profissional da Seju não quis se manifestar sobre a situação específica de Cascavel, mas, em investigação feita por O Paraná, esses não foram os primeiros cascavelenses traficados. Nos últimos anos mais de uma dezena foi levada da cidade com falsa promessa de emprego e nunca mais voltaram para suas famílias. No caso específico do mês passado, as famílias já estão cientes da situação das vítimas e serão instigadas para contribuir com as investigações.

PF: mercado busca beleza e ignorância

A Polícia Federal é uma das responsáveis pelas investigações dos casos de tráfico de pessoas. Segundo o delegado-chefe de Cascavel, Marco Smith, infelizmente isso não é tão raro assim. “No mercado da prostituição internacional isso é recorrente. O que esse mercado busca? Beleza, ignorância e necessidade. A moça e o rapaz precisam ser razoavelmente atrativos, serem ignorantes ao ponto de não procurarem informações sobre a tal proposta de trabalho e a necessidade provocada, por exemplo, pela crise econômica”.

O delegado conta que ainda não recebeu pedido de investigação dos últimos casos. “Tirando os crimes passionais, todos os outros crimes são praticados pelo dinheiro, rastreando o dinheiro, temos ferramentas mais modernas para chegar a essas pessoas”.

Por questões de segurança e para não atrapalhar as investigações, outros órgãos de segurança consultados sobre o caso não entraram em detalhes sobre este crime.

Como interceptam

A maior parte das vítimas, em torno de 90%, tem de 13 e 29 anos. São jovens que querem um futuro promissor, com uma promessa de vida fácil e de glamour.

Um dos aspectos que chamam a atenção, principalmente nos casos em que as pessoas são dadas como desaparecidas, há sempre o envolvimento direto de um familiar ou amigo. “Em muitos casos observamos o envolvimento de alguém muito próximo da vítima no desaparecimento, um amigo ou familiar que sempre estava muito empenhado nas buscas, na procura pela pessoa, mas que as investigações revelam que está diretamente ligada ao sumiço, ao tráfico. Então o alerta vai para os pais, toda a atenção e cuidado com os filhos são poucos”, lembra Sandra Xavier.

Mês de ações contra o tráfico

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) e a Seju (Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos) do Paraná, por meio da Coordenação do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Paraná e com o MPT (Ministério Público do Trabalho) no Paraná, realizará, durante a semana nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas – de 24 a 30 de julho de 2017 – palestras, seminários e operação de combate ao tráfico de pessoas.

O objetivo dos eventos que serão realizados durante a semana é a integração de diversos órgãos no enfrentamento ao tráfico de pessoas. Com isso se busca capacitação, nivelamento de conhecimento e padronização de procedimentos no tocante ao combate ao tráfico de pessoas nas esferas municipais, estaduais e federal.

O evento é aberto ao público e as vagas são limitadas. As inscrições vão até 20 de julho. Os interessados podem se inscrever pelo endereço eletrônico http://www.dedihc.pr.gov.br.

Na região oeste as ações serão realizadas nos dias 25 e 26, no campus da Unioeste de Foz do Iguaçu.