Agronegócio

Especialistas defendem a diversificação do feijão

Diante do cenário nacional e estadual para a produção de feijão, pesquisadores do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses) defendem a diversificação do cultivo de variedades do grão. “Tanto para melhorar o consumo no País, como para melhorar a renda do produtor, é preciso diversificar. O foco apenas no feijão carioca deixa o mercado em um beco sem saída. Não existem países que importem o feijão carioca, a produção é apenas para consumo interno. E quando a oferta é grande, o preço cai e o produtor fica no prejuízo. Quando falta no mercado, como em 2016, quando o preço para o consumidor subiu muito, não havia de onde trazer o feijão carioca. E aí a população começou a ver que existiam outros tipos do grão, como rajado, vermelho e branco. Então é nesse caminho que temos que seguir, ter mais do que uma variedade para oferecer e garantir preços mais estáveis”, defende o presidente do Ibrafe, Marcelo Eduardo Lüders.

Outro aspecto destacado por Marcelo é o rumo do mercado na hora de plantar. “O produtor precisa ficar atento ao mercado, por exemplo, se o preço do feijão carioca está alto, todo o mundo planta. Não é esse o caminho, porque na hora de colher com muita oferta o preço automaticamente baixa. Então é preciso ir na contramão da maioria e diversificar. Plantar metade da lavoura de feijão carioca e outra metade de feijão vermelho, por exemplo, aí quando chegar a hora de vender o preço vai ser diferenciado e o produtor sai ganhando”.

Olhar para outras culturas da mesma linha também é uma saída para encontrar novos mercados: “O plantio de culturas como grão-de-bico, lentilha e ervilha que também são leguminosas secas, que permitem ser armazenadas e os animais não consomem é uma ótima opção. O nosso foco é mostrar ao produtor o que rende na sua região e o que ele pode fazer para não ficar refém de uma cultura só”.

Região oeste

 

A situação da produção de feijão na região oeste do Paraná não é das mais animadoras para o produtor. Com a estiagem durante o desenvolvimento da planta e a chuva durante a colheita, a produção sofreu quebra significativa na produção se comparada à safra anterior.

Dados da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) mostram que na região de Cascavel a produção da cultura segunda safra 2017/2018 caiu 37% em relação à safra 2016/2017, baixando de 20.440 toneladas para 12.850 toneladas. A produtividade por hectare registrou queda de 32%, saindo de 1.446 quilos por hectare para 990 quilos por hectare. “Os fatores climáticos tiveram grande impacto na safra de feijão. Além da produção menor por conta da seca que atrapalhou o desenvolvimento da planta, na hora de colher a chuva prejudicou a qualidade do grão”, explica a economista do Deral Jovir Esser.

Ainda de acordo com Jovir, atualmente na regional de Cascavel não existe mais o grão para a compra, mas no Estado o valor médio pago pela saca de 60 quilos da qualidade carioca é de R$ 75,26.

Para Marcelo Eduardo Lüders, a tendência é de que os preços melhorem para o produtor no início do ano que vem. “Agora em agosto e setembro a perspectiva é de preço baixo ainda para a comercialização do feijão. Mas lá por março e abril [de 2019] teremos uma quantidade menor de produto no mercado e então preço deve reagir”.

Tecnologia e diversificação

Para a pesquisadora do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) Vânia Moda Cirino, o uso da tecnologia aliado à diversificação também pode reduzir o prejuízo do produtor, com eventos climáticos. “Além de optar por variedades mais resistentes à estiagem, o cuidado no preparo do solo para o plantio pode fazer a diferença. Um solo sem compactação e com maior teor de matéria orgânica garante a umidade por mais tempo em caso de estiagem. Mas o plantio de variedades diferentes também pode auxiliar na redução de perda, já que cada uma delas reage de um jeito ao clima. Temos também variedades de porte mais ereto, que diminui o risco de queda da planta e garante um melhor aproveitamento na hora da colheita mecânica também”.

Incentivo ao consumo

O Ministério da Agricultura lançou recentemente o Plano Nacional do Feijão. A ideia é acompanhar a cadeia produtiva do grão, desde a qualidade as semente utilizada, ao uso de pesticidas e talvez a parte mais importante que é a tentativa de reverter à queda de em média 8% no consumo do feijão no País, que vem ocorrendo de 2010 a 2017, que se deve a uma mudança na alimentação do brasileiro. “O brasileiro inseriu outros tipos de alimentos na dieta e muitas vezes por desinformação deixou de lado o feijão ignorando o real valor nutricional e os benefícios que ele traz para a saúde. Então, a ideia é mostrar que existem outras variedades e outras formas de se consumir o feijão, como a farinha do grão, que é altamente nutritiva e pode ser utilizada na culinária por celíacos, por exemplo”, explica Marcelo Eduardo Lüders.

O uso da tecnologia também será importante para esse incentivo: “Nós trabalhamos há alguns anos em pesquisas para melhorar a qualidade nutricional e funcional do feijão. Nós temos já a IPR Quero Quero, que é uma variedade que contém mais ferro e zinco no grão. Mas queremos variedades que contenham antioxidantes e substâncias que reduzem a obesidade, por exemplo. A nossa meta para aumentar o consumo, é transformar o feijão não apenas em um alimento que vai trazer nutrição para a população, mas também um produto que promove e beneficia a saúde desse consumidor por meio desses compostos fitoquímicos que ele contém. Que podem ajudar a inibir câncer, diabetes e colesterol”, enfatiza Vânia Moda Cirino.

As ações de conscientização sobre a importância do consumo de feijão devem se iniciar no Paraná. Parcerias com órgãos públicos e associações ligadas ao setor alimentício estão sendo estudadas e no início de 2019 Curitiba receberá o projeto-piloto que deve nortear o movimento no País.

Outros detalhes serão discutidos no 6º Fórum Nacional do Feijão, que ocorre de 15 a 17 de agosto em Curitiba (www.forumdofeijao.com.br).