Policial

Em um ano, polícia prendeu 30 e deflagrou 2 operações

Execução de Melissa, em 25 de maio de 2017, revelou um plano orquestrado por facção criminosa

Catanduvas – Hoje, um ano após a psicóloga Melissa Almeida, que atuava no Presídio Federal de Segurança Máxima de Catanduvas, ter sido assassinada e um ano e oito meses da morte do agente penitenciário federal Alex Belarmino, executado a caminho da penitenciária onde ministrava um curso, o saldo dos ataques, ao menos do lado de fora da unidade de detenção, é um grande prejuízo ao crime organizado. A avaliação é do delegado-chefe da Delegacia da Polícia Federal de Cascavel, Marco Smith.

Na época, as investigações apontaram que as duas mortes foram encomendadas por uma das facções criminosas mais atuantes no Estado. Com raízes em São Paulo, o PCC (Primeiro Comando da Capital) escolheu o Paraná como sua segunda casa e manteve por aqui seu foco nas mortes registradas em setembro de 2016 com o assassinato de Belarmino e a de Melissa, em 25 de maio do ano passado.

As execuções seriam uma forma de represália ao endurecimento das regras dentro dos quatro presídios federais, Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO), onde estão importantes líderes da facção, além das ações mais acirradas na tentativa de conter o avanço das ações do grupo, hoje tratado como célula terrorista. Desde então, as investigações ficaram ainda mais ostensivas com o objetivo de fechar o cerco ao PCC.

Segundo o delegado, desde as mortes dos agentes já foram presos pelo menos 30 faccionados, homens e mulheres que estariam a serviço do crime organizado.

Em junho, no dia 27, será realizada na Justiça Federal de Cascavel uma audiência de instrução relacionada à morte da psicóloga. Serão ouvidos policiais federais, o delegado que acompanhou as investigações, testemunhas e agentes penitenciários. Será mais um passo no caminho do julgamento dos acusados.

Equivale dizer que, desde o assassinato de Melissa, assim que a motivação foi esclarecida, foram presas sete pessoas com suspeita de participação direta na emboscada. Todas continuam presas, mas apenas uma ficou na região.

Na outra ponta, no mesmo dia do homicídio de Melissa, foram registradas duas mortes em confronto. Eram suspeitos de participar da articulação. Um deles foi morto pelo marido de Melissa, o policial civil Rogério Ferrarezi, que também foi atingido mas sobreviu. O segundo suspeito morreu horas depois em um confronto com a polícia.

O atentado de Melissa ocorreu praticamente na porta de casa, quando o casal voltava da escola com o filho de apenas um ano. O garoto estava dentro do carro quando houve a troca de tiros. A criança não se feriu e na época as investigações também apontaram “certa preocupação” dos criminosos em não ferir o menino, indicando assim toda a premeditação, reforçando que Melissa morreu pelo simples fato de atuar dentro do presídio federal.

Atrás das grades

Outro fator desencadeado pela morte de Melissa Almeida foram duas operações deflagradas tendo como alvo a facção criminosa. Ao menos 30 pessoas foram presas.

O que mais se evidencia nisso tudo é que a investigação sobre o grupo ganhou mais corpo e ficou evidente a presença maciça de seus articuladores na região devido à proximidade da fronteira, facilitando ações ilícitas como o tráfico de drogas, armas e munições e o próprio contrabando de cigarros.

No mês passado, durante operação realizada pela Polícia Federal, as investigações revelaram que o grupo já estava pronto para fixar bandeira em Cascavel, literalmente. Na época, a PF alertou que a apreensão de documentos reforçaria a continuidade nas investigações. Vários dos suspeitos estavam atrás das grades, de onde continuavam comandando e praticando crimes.

Atentados frustrados

Na linha de investigação que levou a polícia a identificar os autores e mentores das mortes dos agentes Melissa Almeida e de Alex Belarmino, outros crimes puderam ser evitados.

Somente em agosto do ano passado, foi descoberto que o grupo articulava a morte de oito pessoas, inclusive um delegado da PF, um juiz corregedor dos presídios, um procurador da República e agentes penitenciários, alusivo à “comemoração” dos 24 anos do grupo. Esses crimes não chegaram a acontecer diante do monitoramento.

No início deste ano o grupo articulava o assassinato de mais um agente que atuava em Catanduvas, só que mais uma vez o trabalho de inteligência desarticulou a ação. O agente e a família foram retirados da região. Ele foi designado para outra região do País, apesar de reconhecer que este é um “ônus da profissão e quando se assume um cargo como o de agente em execuções penais, estas podem ser as consequências”.

Mais profissionais da segurança pública federal estão na mira do grupo. Esse é um dos motivos pelos quais se pede nos presídios federais o fim das visitas sociais, já que as íntimas estão suspensas há quase um ano. A Federação dos Agentes Penitenciários em Execuções Penais defende a manutenção das visitas apenas por parlatório, com monitoramento e sem contato, o que ajuda no isolamento das cadeias de comando do crime organizado. O balizamento para essa alegação está no fato de que a determinação para a morte de Belarmino e de Melissa e a lista dos marcados para morrer teria partido de dentro de presídios federais.

Ano passado, durante as investigações da morte de Melissa, as visitas sociais chegaram a ser interrompidas em junho, mas foram retomadas pouco tempo depois.

Promessa

Em visita à região há dois meses, o ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, deu como certa a interrupção das visitas sociais justamente para combater o chamado homme-office do crime organizado, o que vem ocorrendo dentro dos presídios federais.

Na ocasião, Jungmann reconheceu que a encomenda das mortes é algo extremamente crítico e que vem sendo monitorada pelas forças de inteligência que atuam em conjunto e que precisam ser imediatamente quebradas.

Contudo, já se passaram 60 dias da declaração e essa continua sendo uma bandeira dos agentes, ainda sem ser colocada em prática.

A federação dos agentes afirma que quase nada mudou para quem trabalha dentro do presídio, com ameaças e riscos constantes. “Sabemos dos riscos, assumimos quando tomamos posse, mas alguns mecanismos precisam ser adotados para isolar esses comandos. Por muito tempo os presídios federais fizeram seu papel nesse processo de isolamento, mas isso foi quebrado e precisamos de medidas emergenciais”, destaca a entidade.

O alerta entre agentes da segurança pública nacional é mantido. As investigações dão como certos próximos atentados, sobretudo quando o aniversário de 25 anos da facção se aproxima, em 31 de agosto.