Opinião

EDITORIAL: Coisas de Brasil

Ganhou intensa repercussão (com direito a torcida dividida e tudo) a discussão entre um advogado e o ministro Ricardo Lewandowski durante a semana. "Ministro Lewandowski, o Supremo é uma vergonha, viu? Eu tenho vergonha de ser brasileiro quando eu vejo vocês", disse o advogado, que foi prontamente revidado: "Vem cá, você quer ser preso?"

O advogado jura que apenas manifestava sua opinião sobre o STF (Supremo Tribunal Federal), exercendo o direito à livre expressão, assegurado pela Constituição. Já o ministro diz que tomou as dores da instituição.

Agora, vem cá ministro, o STF dá muita munição para construir esse tipo de imagem, não? Além dos casos de mandar soltar figuras famosas que o juiz mandou prender, o Supremo tem algumas pérolas que fazem mesmo enrubescer a face.

Nessa mesma semana o Supremo conseguiu julgar um processo que tramitou durante 123 anos. Ele passou por tribunais que nem existem mais e foi ajustado a leis já revogadas e caducadas. Os autores? A família da princesa Isabel Cristina e do Conde d’Eu. Eles pediam uma indenização pela perda do Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, hoje de posse e propriedade da União.

Apesar do caso centenário, pasmem, a sessão demorou horas no STF. Só o relator precisou de três (isso mesmo, três) horas para ler seu voto. Quem não sentiria vergonha?

Você deve estar se perguntando como um processo pode ter ficado tantos anos acumulando poeira nos armários do STF. É que, quando num acaso, encontraram nas entranhas da corte o processo protocolado lá em 1895 arquivado indevidamente e, por isso, foi reaberto e levado a julgamento na última quinta-feira, com a derrota da família real de um Brasil que deixou o regime monárquico há exatos 129 anos.