Policial

Criminosos roubam de tudo nas rodovias do Estado

Empresários querem implantação de delegacias em Cascavel e Londrina

Cascavel – Os itens vão desde roupas e calçados, passam por gêneros alimentícios e chegam a combustíveis, óleo vegetal e grãos como soja e milho. O destino, segundo a polícia, é abastecer a criminalidade e, posteriormente, repassar a empresas privadas que comercializam os produtos ‘embutidos’ na mercadoria lícita. Esta é a situação dos roubos de cargas, que têm assustado caminhoneiros e empresários.

Conforme o presidente do Sintropar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Oeste do Paraná), Wagner Adriani de Souza Pinto, foi-se o tempo que as cargas mais valiosas eram as mais visadas. “Como tem procura, os bandidos estão roubando de tudo. Em grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, esses casos abastecem os criminosos de facções, formadas por quadrilhas. Já em regiões menores, tendem a abastecer lojas, supermercados, que compram os produtos sem saber a origem oficial, mas em um valor abaixo do mercado”. 

Segundo Wagner, o roubo de cargas tem sido uma preocupação muito grande do TRC (Transportador Rodoviário de Carga). “Tão grande que a ANTC [Agência Nacional de Transporte de Cargas] tem acompanhado a evolução nos últimos dez anos no Brasil. E esses números revelam que os casos aumentaram expressivamente nos últimos dois anos e que o Paraná, embora se considerarmos em termos percentuais, é bem menor que o Rio de Janeiro e São Paulo, mas ocupamos a quarta colocação no Brasil”. 

Wagner ressaltou que 4% de tudo o que é transportado no Estado é levado por marginais. “O estado de São Paulo é o com maior número de registros, seguido por Rio de Janeiro e Minas Gerais. Não é porque hoje estamos em quarto lugar que não temos que nos preocupar”.

Delegacia

Segundo o presidente do Sintropar, Wagner Adriani de Souza Pinto, uma das maiores reivindicações da categoria é a descentralização da Delegacia de Furtos e Roubos de Cargas. “Ficamos dez anos lutando para que o Paraná implantasse uma delegacia específica para isso e conseguimos. Ela existe em Curitiba, apresenta bons resultados, mas precisamos avançar. Sabemos que o maior número [de casos] é em Curitiba e Região Metropolitana, mas sabemos também que temos casos em outras regiões do Paraná”.

Conforme o empresário, para atender as necessidades seria necessário implantar uma unidade em Cascavel e outra em Londrina. “Pedimos a interiorização da delegacia em Cascavel para atender o Oeste e Sudoeste, e em Londrina para atender as regiões Norte, Norte Pioneiro e Noroeste. A partir de três pontos marcados, delimitados no Estado destinado ao trabalho de investigação e repressão, a tendência é que os índices diminuam”.

Questionado sobre o número de furtos e roubos na região, Wagner cita que não há esse dado. “Não temos porque a polícia não tem um indicador sobre isso. Como só temos uma delegacia especializada sobre isso, quando um crime desta natureza acontece em Cascavel, por exemplo, é registrado o Boletim de Ocorrência como furto ou roubo, sem especificar o tipo. Não há um padrão”.

Valores

Outro ponto citado pelo presidente do Sintropar é o valor cobrado pelas seguradoras, justamente por conta do crescimento dos roubos de cargas. “As transportadoras que levam mercadorias para o Rio de Janeiro, por exemplo, têm que desembolsar 40% do valor da carga como franquia. Para uma mercadoria avaliada em R$ 100 mil, por exemplo, os empresários precisam pagar R$ 40 mil para receber R$ 60 mil se a carga for roubada”.

No caso do Paraná, Wagner comentou que esse percentual pode chegar a até 25%. “O valor é definido conforme a região em que o veículo vai passar, se tem rastreador, se precisa ou não de escolta. E quem está pagando isso é o transportador”.

Medo

Um dos maiores receios dos empresários é que, com a chegada de reforço policial no Rio de Janeiro, os bandidos que atuam naquela região migrem para outros estados. “Há alguns dias, em uma reunião da Federação dos Transportadores, as 100 maiores empresas que atuam no Rio de Janeiro disseram que no dia 21 agosto vão parar de levar mercadorias para lá. O estado vai ficar desabastecido por conta do roubo de cargas. Logo que soube dessa medida, o governo federal decidiu mandar reforço militar e da Força Nacional”, disse Wagner.

Segundo ele, a tendência lógica é que, não havendo produtos, os criminosos migrem para outras regiões. “Os bandidos do Rio de Janeiro vão sair de lá e buscar as mercadorias em outros estados. E se vierem para o Paraná? Não precisa ser um grande estrategista para saber que se expulsarmos os bandidos de um lugar eles vão para outro. Nossa região é rica e pujante. Se eles migrarem para cá, com a estrutura que temos, vamos dar conta?”.

Sistema busca integração para evitar assaltos

Uma das soluções apontadas pelos empresários de transportadoras seria a implantação do sistema Pró-cargas (Programa de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Veículos e Cargas), que já funciona em Goiás, por exemplo. Segundo o presidente do Sintropar, Wagner Adriani de Souza Pinto, trata-se basicamente da integração entre os representantes de segurança pública e fiscalização para evitar que cargas sejam saqueadas por marginais nas rodovias do Paraná. “É um sistema simples que integra as transportadoras, os caminhoneiros, os responsáveis pela segurança e fiscalização nas estradas. A partir do momento que o veículo sai da rota é emitido um alerta para todos os envolvidos que já acionam a polícia mais próxima para interceptar o caminhão”.

Uma reunião realizada em Curitiba foi o pontapé inicial para implantar o programa. “É uma espécie de comitê, que vai reunir todas as instituições de repressão e fiscalização, como a polícia, a Receita [Federal], entre outros. Essas reuniões serão periódicas para cada vez mais integrar os envolvidos e evitar esse tipo de crime”.

Questionado em relação ao custo do Pró-Cargas, o presidente do Sintropar disse que ele é ínfimo. “Serão usadas as estruturas que cada entidade já possui, sem grandes investimentos. Percebemos que cada instituição tem boa vontade, mas o que ainda falta é que se quebrem alguns melindres, as vaidades pessoais e institucionais e que se entenda que quem está sofrendo com isso é a sociedade, que está sangrando”.

A união, proposta pelo Comitê, é considerada de extrema importância para “estancar o sangue” que está sendo derramado, conforme Wagner. “Temos que nos preocupar agora com essa situação. Não podemos esperar chegar ao caos que estão São Paulo ou Rio de Janeiro para fazer alguma coisa. Noticiamos diariamente que os criminosos estão na região de fronteira. O Paraná está na fronteira com o Paraguai, com a Argentina e na divisa com vários estados. Se precisarmos enfrentar esses criminosos, vamos ter estrutura? Precisamos nos antecipar ao problema”.

Boa vontade

Segundo o presidente do Sintropar, todas as pessoas envolvidas no Comitê que deve levar a diante o projeto do Pró-Cargas, têm demonstrado boa vontade, mas com as mãos atadas. “Não encontrei portas fechadas. Claro que tenho ouvido muitos não, principalmente por questões de falta de recursos, mas todos querem fazer. Para a implantação do Pró-Cargas não precisamos só do dinheiro, mas dessa boa vontade de todos”.

Sem previsão para instalação de novas delegacias

A reportagem de O Paraná questionou a Sesp (Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária) sobre o pedido da interiorização da Delegacia de Furtos e Roubos de Cargas para as cidades de Cascavel e Londrina feito pelo Sintropar (Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Oeste do Paraná).

Conforme a assessoria de imprensa da Sesp, a Delegacia de Furtos e Roubos de Cargas, com sede em Curitiba, atua em todo o Estado com apoio das unidades policiais do interior na investigação, prevenção, repressão e processamento dos crimes contra cargas embarcadas e roubadas em estradas. Cabe a ela também fazer o mapeamento de ocorrências, locais de ação e formas de atuação dos criminosos.

Ainda segundo a assessoria, a Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária estuda constantemente a criação de novas unidades em regiões específicas do Paraná. Para criação e instalação de qualquer nova unidade policial é necessário estudo técnico de viabilidade, analisando, entre outros indicadores, as estatísticas criminais.