Cotidiano

Construção civil prevê demissões em massa

Cascavel – O setor até vinha em um ritmo um pouco mais acelerado sobre o primeiro semestre de 2017, mas o cenário político e econômico está retraindo a construção civil, um dos primeiros impactados quando a economia não vai muito bem.

Há anos que o ritmo das obras na região está desacelerando e sobretudo as grandes edificações, como condomínios residenciais, prédios ou mesmo empreendimentos públicos, têm sido cada vez mais raras.

Nas seis maiores cidades do oeste do Paraná, a construção abriu 80 vagas formais no primeiro quadrimestre do ano, contra 490 em 2018, acréscimo de 513%, mesmo assim insuficientes para recuperar a perda nos últimos quatro anos de crise.

Ante um cenário pessimista, a indústria da construção espera uma demissão em massa. Parte delas já ocorreu em maio, mas o acirramento deve ser no segundo semestre, quando as grandes obras em andamento serão entregues e não há previsão de novos prédios.

O presidente do Sintrivel (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Cascavel e Região), Roberto Leal, reforça que isso ainda é resultado do efeito dominó, ou seja, um reflexo da crise que não passou. “Há dois anos considerávamos que o velho oeste seria o último cantinho a sofrer com a crise, mas a crise chegou e está demorando para ir embora. Por outro lado, enquanto se vê alguns setores saindo da crise, na construção civil ainda estamos passando por um dos momentos mais difíceis. São poucas obras em andamento, pouco emprego e muitos seguindo para a informalidade. Este é o retrato claro da recessão”, completa Leal.

Hoje o segmento emprega cerca de 3,5 mil pessoas em Cascavel, mas há pouco mais de dois anos esse número chegava a 7 mil carteiras assinadas. “As grandes construtoras que chegaram a ter 500 trabalhadores hoje não têm mais do que 250 e com risco de novas demissões, porque, conforme as obras vão finalizando, novas não serão contratadas”.

“Isso não significa que todos os profissionais desligados estejam desempregados, porque o trabalhador dessa área é dinâmico e logo se ajusta em outros segmentos”, pondera Leal, ao relatar que, mesmo assim, a procura tem sido intensa por vagas nos murais do sindicato. “Enquanto há alguns anos tínhamos dezenas de vagas que levavam semanas para serem preenchidas, hoje temos uma ou outra que é ocupada em poucas horas”.

Mais de 1,8 mil trabalhadores na informalidade

Entre contratações e demissões, o Sintrivel estima que haja neste momento somente em Cascavel 1,8 mil trabalhadores na informalidade. “Na informalidade existem os riscos por não ter a carteira assinada, não há segurança nem as garantias trabalhistas. Dessa forma, pequenas edificações e reparos custam menos com a mão de obra porque sobra mão de obra informal”, considera o presidente Roberto Leal.

“Diante disso tudo, não poderia ter um cenário mais caótico. Ainda estamos em plena Copa do Mundo e as coisas travam. Em outubro temos eleições que também dificultam o cenário econômico e as incertezas políticas. Esperamos que o presidente eleito possa colocar a economia nos eixos porque a maior dignidade para qualquer pai de família é ter seu emprego e colocar sua vida em ordem”, destacou.

Segundo Roberto, para a construção civil, a reforma trabalhista foi um passo atrás, “empurrando” o trabalhador para um cenário ruim de trabalho intermitente, “formalizando a informalidade”.

O vice-presidente do Sindilojas (Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Cascavel e da Região Oeste), Leopoldo Furlan, empresário do setor de acabamentos, reforça que o cenário é crítico e traz outro alerta: a falta de crédito para quem quer construir. “Movimento até tem, às vezes criamos expectativas com uma venda, mas no momento de finalizá-la trata-se de uma pessoa negativada, com o nome sujo”.

Na ponta do setor, o que se percebe é uma construção civil estagnada e sem previsão de aceleração: “Os juros do financiamento continuam elevados. Havia uma expectativa de serem reduzidos, mas isso não surtiu efeito ainda. Por exemplo, muitas empresas de ferragens medem o aquecimento da economia com a venda de ferro mais pesado para a fundação das obras e, pelo que se tem notícia, essas vendas estão paradas. O próprio empresário não confia numa política de aquecimento de economia”, diz Furlan.