Política

Comissão quer plano estadual para diminuir uso de agrotóxicos

Cascavel – O planejamento estadual já está escrito, mas sequer há previsão para que seja aprovado. Colocar em prática normas que façam com que se diminuía o uso do agrotóxico é o objetivo da Comissão de Ecologia, Meio Ambiente e Proteção aos Animais da Alep (Assembleia Legislativa do Paraná). Por isso, a partir de uma audiência pública realizada ontem em Cascavel, diversas ideias foram reunidas e a intenção é realizar debates nas demais regiões do Estado para, aí sim, adicionar ao que já está escrito e regulamentar o Plano Estadual de Redução do Uso de Agrotóxicos.

“Não aceitamos nenhuma posição que diga que está certo o que está sendo feito hoje. Precisamos ouvir opinião de técnicos, de pessoas que são afetadas por esse uso abusivo, pessoas da área da saúde. Não dá mais para fechar os olhos aos profissionais que receitam métodos sem visitar a propriedade. Em média, no Paraná, por ano, 1.800 receitas são emitidas, isso que se tem registro, mas há muita coisa fora do sistema. Profissionais que deixam receitas prontas, e não se responsabilizam pelos resultados negativos”, afirma o presidente da Comissão, deputado estadual Rasca Rodrigues.

De acordo com a Comissão, 30% dos agrotóxicos usados no campo são clandestinos e 60% do total que se usa aqui é proibido na Europa. “Se em algum lugar se proíbe o uso, é porque há algum prejuízo disso, seja à saúde pública ou ao meio ambiente”, reforça.

A criação de um plano municipal a respeito também foi sugestão do Ministério Público de Cascavel, representado pelo promotor Ângelo Mazzuchi, da 9ª Promotoria. “Falta tudo nesse tema, não temos números fidedignos sobre agravos de saúde e doenças geradas a partir do uso dos agrotóxicos, falta planejamento, precisamos criar meios para evitar o uso abusivo”, comenta Mazzuchi.

A Promotoria também acredita que medidas como pulverização aérea de defensivos agrícolas deveriam ser proibidas. “Não temos controle total do clima, e sabemos que esse tipo de aplicação faz com que o veneno atinja áreas que não estavam destinadas a receber esse tipo de substância, áreas com escolas, nascentes, e que podem ser prejudicadas a partir disso”, explica.

Prejuízos à saúde

Durante a audiência pública, realizada na sede da Areac (Associação dos Engenheiros Agrônomos de Cascavel), a 10ª Regional de Saúde apresentou a preocupação a respeito das diversas doenças que podem ser causadas a partir do uso excessivo de agrotóxicos ou do consumo de alimentos produzidos com veneno em grande escala. “Vemos que é de extrema importância o uso do defensivo para combater pragas que prejudicam a produção, mas temos que analisar a qualidade desses defensivos, para que não prejudiquem o ser humano, precisamos ter vigilância com relação a isso. Temos constante capacitação e um cuidado para que nas unidades básicas de saúde, por exemplo, as equipes verifiquem que se aquela doença gerada pode ser ou não em decorrência do uso de agrotóxicos”, comenta Miroslau Bailak, médico e chefe da 10ª Regional.

Apesar da necessidade de atenção, ele acredita que o cenário já tem melhorado. “Há 30 anos, como médico, eu atendia um paciente intoxicado por dia e, no mínimo, uma pessoa morria por semana em decorrência disso. O que já não acontece em quantidade tão absurda. É possível, sim, diminuir as lesões causadas ao ser humano, diversas doenças e inclusive suicídios causados a partir disso”, reforça.

Capacitação e fiscalização são promovidas no campo

Para que o agricultor tenha conhecimento do produto utilizado no campo e também haja um controle se determinado defensivo agrícola é usado corretamente, sindicatos e Seab (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná) atuam para que haja fiscalização mais rigorosa nas lavouras.

“A Adapar [Agência de Defesa Agropecuária do Paraná] é o órgão que fiscaliza como esse tipo de produto é utilizado. Temos campanhas, que precisam ser mais divulgadas, em que mostramos aos produtores que eles conseguem diminuir o número de aplicações de produtos, com segurança, sem diminuir a produtividade, muito pelo contrário. Em muitos casos, conseguimos reduzir isso em mais de 50%”, afirma o chefe do Núcleo Regional da Seab em Cascavel, Manuel Chaves.

O Sindicato Rural Patronal auxilia para que o produtor rural, principalmente o pequeno, tenha mais conhecimento a respeito dos produtos aplicados no campo. “Capacitamos os agricultores e as famílias, além dos nossos próprios técnicos, sobre manejo integrado de pragas, por meio do Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural]. Levamos isso por meio de reuniões e palestras e já conseguimos ver uma grande diminuição. Na última década, reduzimos em 54% o risco para o aplicador do produtor, em 37% o risco ao consumidor e em 33% o risco ao meio ambiente, isso dados oficiais apresentados nos últimos fóruns sobre o assunto”, comemora o presidente do Sindicato, Paulo Orso.

Compra sem receita

Para a Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná, o maior problema está na compra de venenos sem receita de profissionais engenheiros agrônomos. “São produtos que estão livremente à venda no mercado, que as pessoas compram sem receita de um profissional e aplicam. Estamos estudando isso e lutando para que se faça e se cumpra uma legislação que exija o acompanhamento profissional”, afirma o presidente da Federação, Ricardo Palma.

Mesmo com os produtos indicados por profissionais qualificados, é preciso ter cuidado. “A responsabilidade do engenheiro agrônomo vai até a prescrição da receita. A compra e a aplicação são de cunho do agricultor. Um produto vito sanitário que é indicado por um profissional não vai fazer mal, se aplicado de forma correta, de acordo com a recomendação”.