Cotidiano

Cirurgia trans: LGBT aponta falta de preparo

Curitiba – O Paraná deu o primeiro passo rumo ao credenciamento para a realização de cirurgias de redesignação sexual, popularmente conhecida como mudança de sexo. A fila já deve começar com 200 pessoas dispostas a assumir nova identidade sexual. Atualmente, apenas cinco estados brasileiros contam com instituições hospitalares aptas a realizar esse tipo de procedimento.

Membro do movimento LGBT em Cascavel, Jeff Kaibers considera o anúncio do credenciamento do hospital em Curitiba para realização das cirurgias um grande avanço. Entretanto, ele reclama que ainda faltam formação e preparo dos profissionais da área de saúde em lidar com esse público. “Há casos de mulheres transexuais que procuraram atendimento nos postos de saúde e hospitais de Cascavel e sofrem com a falta de qualificação e conhecimento desses profissionais”, lamenta Kaibers.

Diante desse problema, o coletivo Cores da Diversidade, em conjunto com a Secretaria da Saúde de Cascavel, organiza um encontro para abordar tópicos importantes envolvendo o atendimento e a formação na área da saúde em relação ao público LGBT.

A equipe de reportagem tentou contato com a Secretaria Municipal da Saúde de Cascavel sobre o assunto, mas não obteve retorno.

Habilitação

Sobre o credenciamento do Hospital das Clínicas, Kaibers ressalta que passa a ser um fato de economia, porque muitos são obrigados a procurar tratamento e cirurgias em outros centros, como São Paulo e Rio de Janeiro.

O anúncio de que o Paraná passará a viabilizar as cirurgias para o processo transexualizador no Estado foi feito na segunda-feira pelo secretário estadual da Saúde, Michele Caputo Neto. A habilitação no Ministério da Saúde será feita pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná, de Curitiba.

No período de espera pelo credenciamento, as cirurgias serão custeadas com recursos do governo estadual. “Vamos aproveitar a disponibilidade do HC e não permitir que o conservadorismo atrapalhe o que diz respeito à saúde pública”, garantiu Caputo.

Outros procedimentos aptos a serem feitos serão a mastectomia (retirada das mamas), plástica mamária com colocação de prótese e histerectomia (retirada do útero).

A superintendente do Hospital das Clínicas, Claudete Reggiani, percebe um hiato no que diz respeito a esse tipo de atendimento no Estado. Para ela, essa parceria veio para preencher essa lacuna, luta de mais de uma década dos transexuais paranaenses.

A coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública, Camile da Costa, ainda aponta a existência de preconceito quando é aberto o diálogo em torno desse assunto: “Mas o Paraná mostra que está avançando nesse contexto”.

Acompanhamento psicológico

No Paraná, travestis e transexuais contam com acompanhamento médico e psicológico há quatro anos por intermédio do Centro de Pesquisa e Atendimento para Travestis e Transexuais. É oferecido também o tratamento de hormonioterapia.

Números do governo do Estado mostram que somente no primeiro semestre ocorreram 400 consultas médicas e 780 atendimentos com psicólogos. No mesmo período, o Estado viabilizou a esse público 43 mil comprimidos e 700 ampolas de hormônio.

Comitê

Por intermédio de uma Resolução da Seju (Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania), o Paraná conta desde 2015 com o Comitê de Acompanhamento da Política de Promoção e Defesa dos direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais do Paraná.