Cotidiano

Chuva prejudica 27 mil hectares de trigo

Colheita que iniciaria na próxima semana pode atrasar com excesso de umidade

Corbélia – Primeiro foi a estiagem de quase dois meses, depois o frio com três geadas de intensa formação consecutivas em julho, agora o problema é o excesso de umidade que coloca em alerta uma área superior a 27 mil hectares de trigo que está em fase de pré-colheita nos 28 municípios do Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel.

Segundo o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) José Pértille, esta área não necessitava de tanta água e a chuva dos últimos dias coloca a qualidade deste grão em extrema vulnerabilidade com risco de apodrecimento nos próprios bagos. “A qualidade certamente será atingida, pois estas lavouras já poderiam ser colhidas a partir da próxima semana”, afirma.

É isso o que deve ocorrer se parar de chover, mas a notícia para estes triticultores não é muito animadora. Há previsão de chuva ao menos até domingo, inclusive com risco de temporais no sábado e para que os produtores entrem no campo com as máquinas, são necessários pelo menos dois dias de sol intenso. Independente de quando a colheita do trigo inicie, ela se estenderá até o fim do próximo mês, mas ânimo não é necessariamente a palavra- chave para os agricultores que optaram por este cultivo de inverno.

Segundo Pértille, considerando todos os fatores climáticos e os problemas no decorrer do cultivo, neste momento a quebra considerada é de 20%, mas ela tem tudo para ser muito maior até o fim do ciclo.

Considerando apenas os dados preliminares, significa que em vez de colher 330 mil toneladas do cereal, a regional pode chegar, no máximo, a 270 mil toneladas. “Porque este excesso de umidade também pode interferir”, reconhece o técnico.

“Para estes 27 mil hectares em pré-colheita a chuva não era necessária, por outro lado, para os outros 63 mil hectares ela está sendo muito boa, mas poderá prejudicar se não parar”, completa.

Cotação

Apesar da aproximação da colheita, nesta semana a cotação do trigo chegou aos R$ 36,50 à saca. O preço mínimo é de R$ 38, mas para um cenário aonde o valor por 60 quilos do cereal chegou a R$ 31 no mês passado, a cotação atual já é considerada um avanço. Mas tudo indica que ele tende a baixar, novamente, a partir do início da colheita e não é porque vai sobrar produto nacional.

O Brasil consome, em média, 12 milhões de toneladas de trigo por ano, mas produz, quando muito, sete milhões de toneladas. Para este ano são esperadas pouco mais de cinco milhões e o restante acaba sendo importado de países como Argentina e Paraguai.

O Paraná é um dos três maiores produtores de trigo do País, mas a falta de incentivo à cultura tem retirado cada vez mais adeptos da prática e muito trigo é trazido de países vizinhos.

A expectativa agora são para as possíveis novas perdas que só serão analisadas no momento da colheita.

Quando às áreas em maturação, quase prontas para a colheita, a notícia não é muito positiva. Como elas precisam de tempo firme para não afetar a qualidade do grão, baixando o PH e mesmo deixando-o ardido. Há previsão de chuva até o início da próxima semana, inclusive para sábado há alerta de temporal.

Cenário de quebra é irreversível

Curitiba – A colheita da safra de trigo começou oficialmente no Paraná e já pode ser prejudicada pelas chuvas, que voltaram a ocorrer nesta semana após dois meses de uma estiagem comprometedora para o potencial produtivo das lavouras do Estado, principal produtor nacional.

"Se as chuvas forem esparsas e na semana que vem o clima estiver seco, tudo bem. Mas, se ficar nublado, a planta não vai secar, o que atrapalharia a colheita", explicou o agrônomo Carlos Hugo Godinho, do Departamento de Economia Rural, vinculado à Secretaria de Agricultura do Estado.

Conforme o Thomson Reuters Agriculture Weather Dashboard, o oeste, o noroeste, o norte e o centro-oeste paranaenses, que concentram as plantações de trigo, devem receber chuvas pelo menos até domingo, dia 20, com acumulados que podem passar de 30 mm por dia em algumas áreas.

No sul do Estado, que também cultiva o cereal, as precipitações devem ser mais moderadas, não ultrapassando os 17 mm até domingo, ainda de acordo com o serviço meteorológico da Thomson Reuters.

O Paraná colheu um por cento da área cultivada de 955 mil hectares, segundo o Deral.

Na avaliação de Godinho, as chuvas até deram uma "aliviada no déficit hídrico" e devem limitar as perdas, mas não reverter o cenário de quebra de produção após a seca desde junho e as geadas no mês passado.

"O que foi perdido, foi perdido. Mas a chuva interrompeu o processo de não enchimento das plantas. Agora voltou a encher, as plantas vão encorpar", destacou.

O Paraná previa colher mais de três milhões de toneladas de trigo neste ano, mas após as adversidades climáticas deve colher menos de 2,8 milhões de toneladas.

Os problemas no Estado, inclusive, levaram a Companhia Nacional de Abastecimento a reduzir sua projeção para a safra nacional de trigo, de 5,57 milhões de toneladas estimadas em julho para 5,19 milhões de toneladas no levantamento de agosto.

Uma avaliação mais precisa sobre o tamanho da produção – e também das perdas – deve ser divulgada no fim do mês pelo Deral, em meio ao avanço da colheita, afirmou Godinho.

Por ora, os preços da saca do cereal no Estado oscilam entre R$ 35 e R$ 36, estável em relação aos das últimas semanas, com o mercado à espera de mais informações sobre a qualidade do produto colhido, concluiu o agrônomo.

Mercosul vai produzir menos trigo

A Consultoria Trigo & Farinhas reduziu em 2,69% a projeção de produção de trigo do Mercosul em relação a sua estimativa anterior (julho 2017). Em comparação com a safra anterior, o bloco composto por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai colheria 6,17% menos do cereal de inverno.

“Não é uma projeção definitiva, apenas o retrato do que se pode perceber no momento. As principais quebras de produção deverão ocorrer no Brasil (principalmente no Paraná) e no Paraguai. As safras do Rio Grande do Sul e do Uruguai também terão quebras, mas ainda não estão definidas. Por enquanto, a produção da Argentina permanece inalterada em 17,5 milhões, apresenta alguns problemas, mas, como está no seu início, não há condições de alterar o seu potencial produtivo”, justifica a T&F.

De acordo com a projeção, a produção argentina deverá aumentar 6,06% para 17,5 milhões de toneladas, mas este aumento não deverá compensar a quebra de 2,56 milhões de toneladas dos demais participantes do bloco. Com isto, a produção total de trigo do Mercosul está estimada neste mês de agosto em 23,69 milhões de toneladas, cerca de 6,17% a menos do que a produção anterior, que foi de 25,25 MT.

Como a principal quebra será a do Brasil (cerca de 1,85 milhão de toneladas) a Consultoria Trigo & Farinhas acredita que a Argentina deverá direcionar mais grãos para cá. Isso deve ocorrer mesmo que o país vizinho siga mantendo sua exportação para fora do bloco, visto que está fazendo muito esforço para conseguir novos mercados.

Como efeito haverá uma forte redução de 28,22% nos estoques finais do Mercosul, ou cerca de 13,01% a menos do que a capacidade de um mês de moagem do bloco. Isso poderá implicar em aumento potencial das importações de outras origens.