Agronegócio

20 mil hectares com trigo podem virar subproduto

Há ainda atraso em 150 mil hectares de soja e condição começa a comprometer safrinha

Cascavel – O excesso de chuva que tem atrasado desde o mês passado a colheita do trigo na região faz com que em torno de 20% da área destinada ao cereal que já está pronta para ser colhida, o que resulta em quase 20 mil hectares somente no oeste, sigam nas lavouras sem a possibilidade de serem removidas.

Teve produtor que iniciou a colheita no domingo pela manhã, mas com a reviravolta do tempo precisou recolher as máquinas e agora voltar é uma grande incerteza diante da previsão de chuva, com pequenos intervalos de sol, até a próxima segunda-feira.

O problema é que já tem trigo que passou da hora de ser colhido e cada dia a mais nas lavouras é sinônimo de perda de qualidade. “Se continuar chovendo por uma semana, o trigo que estava com um pH bom no fim de semana, de 77, 78, vai registrar baixa todos os dias até se tornar triguilho, que é um subproduto e vale muito menos no mercado. Neste momento, os 20% a serem colhidos podem virar subproduto se chover a semana toda”, explica o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) no Núcleo Regional da Seab de Cascavel José Pértille.

Das lavouras já colhidas, ainda não se tem avaliações conclusivas sobre perdas e qualidade, mas já se sabe que há redução de produtividade e que a qualidade também foi afetada, primeiro por geadas, depois pelo excesso de umidade.

A expectativa inicial era colher pouco mais de 600 mil toneladas em 48 municípios cobertos pelos núcleos de Toledo e de Cascavel, isso representaria 12% da produção nacional estimada para este ano, que não deve ser muito superior as 5,5 milhões de toneladas e com perdas já configuradas em outras regiões produtivas também.

Segundo analistas de mercado, o Brasil precisará importar um volume ainda maior de trigo neste ano, diante de um consumo interno atual que ultrapassa as 11 milhões de toneladas.

150 mil hectares ainda sem soja

A chuva e o atraso na colheita do trigo também retardam o plantio da soja. Neste momento, 85% das lavouras destinadas à oleaginosa foram semeadas na região. Esses quase 900 mil hectares se desenvolvem bem e estão em sua maioria em fase de desenvolvimento vegetativo. Ocorre que ainda estão para trás cerca de 150 mil hectares que não conseguem ser semeados, mais uma vez pelo excesso de umidade no solo. “O plantio não chega a estar atrasado, até o dia 15 de outubro é considerado período ideal, mas se vai chover até a próxima semana, não tem como plantar com o solo encharcado até essa data”, reforça o técnico José Pértille.

A colheita do trigo está mais atrasada nas regiões de Catanduvas, Ibema e Campo Bonito, mas o plantio da soja precisou ser retardado de forma parelha, por toda a região. “Quando chove, chove em todo o oeste, não são chuvas ocasionais”, completa.

De todo modo, a safrinha de inverno de 2019 já começa a ficar sob alerta. No ano passado o que interferiu foi a estiagem, que atrasou o ciclo de verão em 30 dias, e muitos produtores não conseguiram plantar milho no inverno. Desta vez, o que tem prejudicado é o excesso de chuva. “A safrinha ainda não está amplamente prejudicada, mas já compromete para o produtor que deseja plantar o milho no período ideal e correr menos riscos naquela que é uma safra de altos riscos considerando os fatores climáticos”, segue o técnico.

Chuva a caminho

O Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná) alerta que somente nesta quarta-feira pode chover mais de 90 milímetros na região. De hoje até segunda-feira da próxima semana podem chegar a 140mm de precipitação. Ou seja, em apenas uma semana pode chover mais da metade do esperado para todo o mês.

Nos últimos 40 dias choveu no oeste 230 milímetros. Só em setembro foram quase 200mm, bem acima da média histórica que fica na casa dos 120mm.

Segundo a meteorologista Janaina Xavier, essa chuvarada toda que está por vir é fruto de uma massa vinda do Paraguai que se encontra com nuvens carregadas vindas da Região Norte do País. “Essas condições provocam calorão e muita chuva”, explica, ao lembrar que este ainda não é um efeito do El Niño, fenômeno que vai marcar presença nesta primavera e no verão trazendo mais chuvas e temporais para o Sul do Brasil. “Na primavera ele deverá ser mais fortemente sentido na reta final da estação”.

E por falar em temporais, amanhã pode haver rajadas de vento perto dos 70 km por hora na região com possibilidade de trovoadas e queda de granizo.