Cotidiano

Sonia Braga defende protesto por ?Aquarius?

RIO – Protagonista do filme ?Aquarius?, que estreia no dia 1º de setembro proibido para menores de 18 anos, como revelou a coluna de Ancelmo Gois na terça-feira, a atriz Sonia Braga disse que os jovens devem protestar pelo direito de assistir ao filme.

? É importante que eles se manifestem, que vão para a porta dos cinemas, acompanhados dos pais, protestar pelo direito de ver o filme ? defendeu, antes da pré-estreia do longa, na noite de ontem, em Niterói.

A atriz alegou que não vê motivos para o Ministério da Justiça ter dado classificação indicativa de 18 anos para ?Aquarius?, dirigido pelo cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho:

? Muitas novelas que passam na TV diariamente contêm cenas parecidas e nem por isso são proibidas para menores. ?Aquarius? é um filme feito para todo mundo, sobre uma mãe de família que toma uma decisão a respeito de uma questão que envolve toda a sociedade. Estamos discutindo o Brasil de quem? Apenas das pessoas com mais de 65 anos? Não. Falamos do Brasil de todos, do Brasil que os jovens terão no futuro ? afirmou ela, que vive uma mulher pressionada a vender seu apartamento para uma construtora que tem planos de erguer ali um grande condomínio.

O Ministério da Justiça justificou a decisão alegando que o longa contém sexo explícito. ?Aquarius? tem três cenas de sexo. Uma delas retrata uma orgia, em que é possível ver um pênis ereto, mas sem penetração explícita. Procurado, o ministério não comentou a decisão, nem divulgou o relatório que a embasa (até o fechamento desta edição).

PROTESTO EM CANNES

A restrição teve forte repercussão nas redes sociais, com insinuações de que o filme estaria sendo prejudicado pelo fato de sua equipe ter protestado no Festival de Cannes, em maio, erguendo cartazes chamando de ?golpe? o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff.

? Não tenho informações que levem a crer que exista censura, mas, no atual clima político do país, qualquer um poderia pensar nisso. Não culpo ninguém. O relatório (da classificação) me pareceu bem feito. O problema é que é técnico demais, como se tivesse sido feito por uma máquina, e não um ser humano. Outra coisa: eu não seria doido de fazer um drama humano em que as cenas de sexo são desnecessárias. Sei onde está a linha que não pode ser ultrapassada ? afirmou o diretor, ontem à tarde.

À noite, porém, Kleber Mendonça Filho disse que não descartava a hipótese de represália e afirmou que lhe ?parecia suspeito? que filmes recentes tenham recebido classificação mais leve, apesar de apresentarem conteúdo sexual ?franco?. Ele citou ?Tatuagem? (2013), de Hilton Lacerda, recomendado para maiores de 16 anos; ?Praia do Futuro? (2014), de Karim Aïnouz (14 anos); e ?Boi neon? (2015), de Gabriel Mascaro (16 anos).

? ?Aquarius? não é um filme com elementos de pornografia, com representação gráfica de penetração. Ao todo, há 13 ou 14 segundos de elementos que poderiam ser considerados sexuais no filme. Não é justo ? disse.

MAIS POLÊMICA

A classificação indicativa foi criada após o fim da Censura, com a Constituição de 1988. Todos os produtos culturais estão sujeitos a classificações por faixa etária. Mas a única verdadeiramente proibitiva é 18 anos. Nas outras é permitido o acesso acompanhado de responsável.

Em solidariedade a Mendonça Filho, Mascaro e a diretora Anna Muylaert anunciaram ontem que não irão inscrever seus filmes (?Boi neon? e ?Mãe só há uma?, respectivamente) na disputa para representar o Brasil no Oscar de 2017. Eles alegam que a comissão é parcial, por conter em seu quadro integrantes que se manifestaram condenando o protesto em Cannes.