Esportes

Madureira, o pequeno mais longevo, entra na rota dos grandes no Carioca

16299397_771751403000347_3256071975456997082_n.jpg

Tratar o Madureira como mero intruso entre os grandes do Rio nas semifinais da Taça Guanabara é enxergar somente parte da história. O adversário do Fluminense neste sábado, às 16h30m, em Los Larios, é o mais longevo entre os times pequenos na primeira divisão do Campeonato Carioca: disputou todas as edições desde 1994. Agora, busca vaga na decisão do primeiro turno do Estadual.

A estabilidade do tricolor suburbano é, antes de tudo, política. Elias Duba, de 67 anos, é o presidente do clube desde 1993. Desde então, além de sempre disputar a elite do Carioca, o Madureira construiu a imagem de clube sem grandes alterações nos bastidores, para o bem ou para o mal.

? O jogador escolhe vir para o Madureira, às vezes recebendo menos do que outros lugares oferecem, porque tem a certeza que vai receber os salários em dia. Aqui o mês tem 30 dias. Esse é o maior marketing que o Madureira tem ? afirma Duba.

Para o gerente de futebol do Madureira, Luiz Cláudio, é natural que medalhões como o atacante Souza “Caveirão”, ex-Flamengo, e o lateral-esquerdo Wellington Saci, ex-Corinthians, recebam os holofotes diante da boa campanha no Carioca. Ele defende, porém, que o sucesso do time passa por uma espinha dorsal de jogadores jovens, muitos deles identificados em competições locais. O meia Douglas Lima, por exemplo, chamou atenção quando jogava a Copa Rio pelo Clube Rio São Paulo, da terceira divisão carioca. Trazido para o Madureira aos 22 anos, virou titular no esquema do técnico PC Gusmão.

No Madureira, há uma preocupação especial em não fazer feio no Carioca, campeonato com mais visibilidade graças às partidas contra grandes transmitidas pela TV. Além de buscar nomes experientes e ter a fama de bom pagador, Duba ganhou o apelido de “Silvio Santos” no vestiário devido às premiações pagas em caso de vitória.

? O Carioca sempre é o carro-chefe do Madureira. Usamos a Copa Rio, no segundo semestre, e até a Série D como laboratório para os jovens. O investimento no primeiro semestre é cada vez mais forte, até porque o Carioca está ficando mais seletivo. É claro que temos aspirações de levar o Madureira à Série C ou até à Série B, mas é preciso dar um passo de cada vez ? explica Luiz Cláudio.

HÁ DOIS ANOS, QUASE SEMIFINALISTA

Em campo, os últimos grandes do Madureira na era Duba foram o vice-campeonato da Série D, em 2010, e o vice do Carioca em 2006. Há dois anos, o time chegou perto das semifinais do Estadual, mas acabou fora após uma polêmica derrota para o Fluminense, em que houve reclamações de gol impedido e pênaltis não marcados.

Naquela ocasião, Duba se irritou com provocações do então vice de futebol do Fluminense, Mário Bittencourt, e o acusou de ser agente de jogadores. Hoje, garante que a semifinal não tem gosto de vingança.

? Aquilo tudo teve um tom de brincadeira. O Mario já salvou o Madureira como advogado. Fomos acusados de escalar um jogador irregular em 2010 (o volante Wesley), durante a Série C, e ele evitou que a gente perdesse pontos ? lembra Duba.

? Isso é página virada. O gosto especial é pelo orgulho de furar o bolo dos quatro grandes e chegar à semifinal ? garante Luiz Cláudio.

É o pragmatismo que protege o Madureira de sobressaltos. Em campo, o time de PC Gusmão se classificou às semifinais com uma rodada de antecedência sem grandes invenções tática, formando as tradicionais linhas de quatro e tendo os veteranos Souza e Julio César no ataque. No gabinete da presidência, o tradicionalismo também é regra. O poder longevo de Duba é marcado por uma convivência harmônica com a Federação de Futebol do Rio (Ferj). Para ver o presidente do Madureira atacar o poder, é preciso sair do futebol.

? Temos um prefeito que assumiu e sumiu. O estado está desgovernado. O presidente coloca no poder uma turma envolvida na Lava-Jato. Já chegamos ao fundo do poço e continuamos cavando. Enquanto isso, o noticiário só diz que não podemos ser racistas, homofóbicos… Tudo isso me preocupa. Não estou falando do clube, mas da vida mesmo. Não olho só para o meu umbigo.