Cotidiano

?Love story? recebe a sua primeira montagem brasileira

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RIO – ?Escrevendo sobre ?Love Story?, disse eu que era um filme para qualquer gosto, idade ou sexo. Qualquer um, desde a grã-fina à favelada, do ministro ao veterinário, do sábio ao assaltante de chofer, do arquiteto ao lavador de automóveis, todos, todos tinham que aprender com a bela história de amor?, discorreu Nelson Rodrigues em sua coluna publicada no GLOBO em 17 de julho de 1971, com a crítica ao longa-metragem ?Love story?, dirigido por Arthur Hiller e com roteiro de Erich Segal, autor do livro no qual ele se baseia. No texto, intitulado ?Adeus à sordidez?, o escritor atentava para o poder universal da trama, ?Um Romeu e Julieta em que o Romeu não morre no final?. Agora, um novo elenco, formado por 11 atores, todos negros, dará vida à primeira montagem brasileira dessa história de amor. Sob a direção de Tadeu Aguiar, o musical estará em cartaz a partir de quinta-feira no Imperator, no Méier.

A peça homônima ao longa-metragem vencedor do Oscar de melhor trilha sonora em 1971 é fiel à história original, incluindo as músicas que embalam o encontro, encantamento e paixão entre Oliver Barrett IV, vivido por Fábio Ventura, e Jennifer Cavilleri, encarnada por Kacau Gomes. A tradução para o português coube a Artur Xexéo, que cumpriu o desafio de manter a capacidade da trilha original de fazer o espectador se arrepiar, como atestou a equipe do caderno Zona Norte na palinha dada pelos atores para esta reportagem. No palco, a cor da pele virou questão secundária, uma vez que o espetáculo dá voz a um sentimento universal que escapa às rotulações: o amor. É ele o grande astro e mérito de ?Love story?, como já adianta o próprio nome.

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? Lembro da comoção que o filme causou no público na época, das pessoas saindo dos cinemas chorando, das músicas que me deixaram enlouquecido. Quando fui adquirir os direitos para a montagem, escutei de novo a trilha e tive a mesma sensação, o que só prova a longevidade e a força dessa história ? conta Tadeu Aguiar.

A peça nos apresenta Oliver, aluno de Harvard, e Jennifer, aluna de Radcliffe, uma universidade menos cotada. Ele é rico, ela é pobre; ele pratica esportes, ela toca piano. Os dois se apaixonam, mas o fosso social entre eles faz a família do rapaz ir contra o casamento. Ele acaba deserdado, o que não impede o casal de ficar junto. O final feliz, no entanto, é abalado por uma enfermidade que os obriga a reescrever os planos para o futuro.

A escolha dos atores aconteceu de maneira fluida. Realizados os testes, Aguiar conta que observou que 70% dos papéis disponíveis já haviam sido preenchidos por atores negros. Foi quando comprou a ideia de fazer a escolha dos demais talentos dentro da mesma proposta estética.

? Reviver essa trama sem dar a minha marca seria algo que não me interessaria como artista. Atestei que esta proposta casava com as necessidades, nuances e timbres da história de que eu precisava, e optei por um elenco negro. Eles têm a missão de contar sobre experiências que são comuns a todo homem e mulher, independentemente da religião que pratiquem, da classe em que estejam e da trajetória que tenham percorrido. Não há quem não se comova com uma bela história de amor ? argumenta o diretor.

As canções serão interpretadas por sete músicos, sob a direção de Liliane Secco, que traduzirão na linguagem universal dos acordes este sentimento comum vivido em todos os recônditos do mundo, mas que tem encontrado dificuldade em se sobressair nos debates numa época de acirramento político e discursos de ódio. Tal como ocorreu no início da década de 1970, quando no Brasil já vigorava o AI-5 da ditadura militar.

?Talvez seja uma ilusão minha, não sei. A meu ver, porém, ?Love story? marca a morte de uma época e o nascimento de outra. Uma simples história de amor, por ser de amor, e não por ser um bom filme ou ruim, desperta no homem uma brutal nostalgia de si mesmo. O processo de nossa humanização parou e, mais do que isso, começa a regredir?, escreveu Nelson Rodrigues para explicar o sucesso estrondoso do longa-metragem que, em dois dias de exibição, já havia conseguido pagar seus custos de produção, graças à vultuosa bilheteria nos EUA e demais países em que foi exibido. Quatro décadas depois, em quadro de ânimos acirrados parecido com o descrito por Rodrigues, a missão da peça é exaltar o que nos aproxima.

? Tal como ocorreu lá atrás, hoje as pessoas estão se afastando. Há muita raiva. Queremos lembrar e celebrar aquilo que nos torna iguais. Exercitar o amor pelo amor ? finaliza Tadeu Aguiar.

INFORMAÇÕES

Imperator. Rua Dias da Cruz 170, Méier. Tel.: 2597- 3897. Sextas e sábados, às 21h; e domingos, às 19h. De 10 de junho até 31 de julho.

Ingressos a R$60