Cotidiano

Kartik Chandran, engenheiro ambiental: 'É importante entender a história das cidades'

201605301812346458.jpg“Sou indiano. Fui para Nova York
estudar Engenharia Química. Tenho PhD em Engenharia Ambiental pela Universidade
de Connecticut, e sou professor assistente na Universidade de Columbia. Ganhei a genius
grant
da MacArthur Foundation (premiação) para desenvolver pesquisa sobre
transformação de esgoto em recurso utilizável.”

Conte algo que não sei.

Cresci em cidades grandes. Fui criado em Déli, na Índia. Depois, mudei-me
para Nova York, onde estudei e moro há 15 anos. Sou fascinado por entender como
elas se formaram, cresceram, se transformaram, como conseguiram prover água
potável, energia e comida para as suas populações. Errou-se muito até chegar ao
que as cidades grandes são hoje. Mas, agora, não dá mais para desperdiçar o
planeta. Por isso, é importante entender a história das cidades para saber o que
fazer com as futuras metrópoles.

A má distribuição da população é um problema ambiental?

Sim e não. Sim para os lugares que
não estão preocupados com o meio ambiente. Isso pode gerar prejuízos. E não para
as cidades sustentáveis, que se preocupam com seus resíduos.

Como se dá o processo de transformação do esgoto em algo
útil?

O esgoto nada mais é do que a soma
de água mais ?x?. Por meio de sistemas biológicos de tratamento, é possível
separar esse ?x? da água. E, além de se ter de volta uma água que poderá ser
reutilizada, aproveitam-se os resíduos, como fósforo e nitrogênio, para se fazer
fertilizantes, e o carbono, na geração de energia.

Quais são os países que mais se preocupam com a reciclagem do
esgoto?

Israel e Singapura. Aposto que
quando me fez essa pergunta esperava ouvir Estados Unidos. Os americanos têm a
tecnologia para o tratamento, mas não necessitam dele ainda. Isso só é bem
implementado nos países em que a reciclagem da água é essencial.

Esse tratamento é caro?

Depende. Quando o esgoto vai para as galerias e se mistura com uma quantidade
de água maior, fica mais difícil de tratar. Nesse caso, a reciclagem é mais
cara. Mas, claro, qualquer gasto nunca vai ser maior do que os prejuízos
irreversíveis que o não tratamento do esgoto pode trazer ao planeta. No entanto,
se a reciclagem é feita quando o esgoto está concentrado o gasto é bem menor.
Fora que a energia e os produtos químicos gerados poderão ser usados para se
tratar o esgoto, o que reduz custos.

Mas o tratamento nos edifícios elevaria muito o valor da taxa de
condomínio?

Não. Os moradores já pagam uma
taxa às empresas por tratamento de esgoto. Esse dinheiro que eles gastam com
isso, ou até menos, poderia ser usado na reciclagem em seus edifícios.

Como conscientizar um país que não precisa reciclar água a adotar
esse processo?

Por meio da educação. É importante que se faça entender, por meio de
campanhas públicas, que o esgoto não tratado faz mal ao meio ambiente e que, no
futuro, a conta vai chegar. Essa conscientização, alinhada a uma regulamentação,
seria importante para que o esgoto não precisasse ser tratado depois que fosse
para as galerias, mas, sim, nos próprios prédios residenciais ou comerciais ou
nas favelas, porque é onde está bastante concentrado e, consequentemente, bem
mais fácil de ser tratado.

Como evitar que o tratamento de esgoto gere gases de efeito
estufa?

Se a reciclagem seguir um
protocolo de execução, isso não vai acontecer. Esse tratamento precisa ser
seguido corretamente para dar certo, como uma receita de bolo. Caso contrário,
pode, sim, gerar gases de efeito estufa.