Cotidiano

Constituir família, eu??

Falando sério. Levante a mão a mulher que nunca contou até dez para não torcer o pescoço do marido. E vocês, homens casados, atire a primeira pedra o marido que, jogado no sofá com uma cerveja na mão, não desejou, por pelo menos 15 minutos, ter de volta os saudosos tempos de solteiro em que não devia nada para ninguém. Pois bem. O que os dois agora tem em comum? Um ao outro. E o Joãozinho. Sempre tem que ter um Joãozinho. Só semana passada foi duas vezes para a direção da escola por ter xingado os coleguinhas. E detesta matemática. Tem sempre professora particular no final do ano e não tem jeito de fazer os temas. Tem também a avó do Joãozinho, sogra cada vez mais enfiada na intimidade do casal que aguenta seu preciosismo devido à urgente necessidade de dividir a cansativa responsabilidade de vigiar as peraltices do Joãozinho, isso em prejuízo da Mariazinha – às vezes os casais também têm uma Mariazinha – que ainda está naquela fase de chorar a noite toda e deixar sua mãe com cara de zumbi já às seis da manhã, horário em que tentava dar um cochilo até que o Joãozinho resolveu gritar, deitado na sua cama, por suco e bolo. Mariazinha acordou. E dê-lhe choradeira.

– Eu já não te falei para não gritar, Joãozinho? Grita ainda mais alto uma mãe sobrecarregada.

E lá vem o pai de novo, com cara de sono, ralhar com o Joãozinho.

E ainda não eram sete da manhã…

Bem-vindo a um dia na família Santos. É, família, aquilo que não apenas desejamos para nós  como para nossos filhos e para aqueles que queremos bem. Quer ver uma pessoa de mais idade toda orgulhosa de si é ela dizer que casou todos os filhos, um atestado de que fez tudo direitinho, que encaminhou todos eles. Frases como “estão todos casados” ou “só a caçula ainda mora comigo” é um reflexo da importância que o casamento tem na concepção de pessoas mais maduras como resultado de uma vida realizada, plena e feliz.

É ou não é?

Os defensores da família que me perdoem, mas se fosse a união entre dois indivíduos uma coisa tão extraordinária assim, não existiriam tantos psicoterapeutas especializados no assunto, profissionais que, se competentes, gente e mais gente se acotovela para consultá-los. Família é algo tão complexo que até o jurídico abriu uma área para atender os dramas e desentendimentos que ultrapassaram a privacidade das quatro paredes. Dependendo da cidade, para a Vara de Família o Fórum designa um andar inteiro.

Com as novas tecnologias digitais, homens e mulheres, por meio do anonimato, colocaram a boca no trombone. Sejamos sinceros. A forma como está constituída a família já não encontra terreno fértil em todas as mentes humanas. Não, não é apologia ao final dela, eu mesma tenho a minha, mas quando Corine Meyer lançou na França o livro intitulado  “40 motivos para não ter filhos” foi duramente criticada pelas entidades de proteção à família. Com ou sem crítica, porém, vendeu como água por uma razão simples: Corine falou a verdade, nua e crua, da rotina do que é ter marido e filhos. Sem floreios. É assim e pronto, vai encarar?

E encaramos. Mas se sabemos que é assim, fica mais fácil compreender os famosos baixos quando a gangorra desce. Faz parte. Estamos vivendo uma época em que o tempo médio do matrimônio é de 15 anos, e a mulherada não está mais tão propensa assim à maternidade. Ou seja: casamento deixou de ser atrativo. Um aumento de 160% no número de divórcios no Brasil é outra prova disso.

Tá, e o amor cadê? Se nos guiarmos por estatísticas e tendências, está no “cada um na sua casa” mas com alguma coisa em comum. O Joãozinho e a Mariazinha por exemplo.  E sem pânico nem demagogia porque a vida é isso aí mesmo. Casamentos de longa data, em nossos dias, não é, necessariamente, sinônimo de felicidade, podendo até ter se dado em função da acomodação.  Então, para quem está em vias de entrar para a vida de casado, aloha! A essas alturas você já sabe que tem um longo caminho a ser percorrido, com grandes alegrias mas também com alguns atropelos que podem abalar sobremaneira sua relação. Tudo bem? Então tá. Vai fundo. E para quem está saindo, bom recomeço! Sem essa de se sentir diminuído nem assumir o rótulo de “reprovado no casamento”. Pense que a união foi até onde deveria ter ido, respeite o que foi vivido com quem dividiu sua história, ame seus filhos, e toque seu barco para frente.

E alguém aí se anima a jogar a primeira pedra?

Vivian Weiand