Cotidiano

Acordo garante a memorial em Uberaba usar nome de Chico Xavier

RIO – Mesmo 14 anos após a morte, Chico Xavier vale muito espiritual e até comercialmente. Um sobrinho-neto do médium, Caio Lúcio Ferreira Gonçalves, contesta na 1ª Vara de Família e Sucessões de Uberaba, o pedido do dentista Eurípedes Humberto Higino dos Reis para ser oficialmente declarado como filho adotivo do médium. O temor é de Eurípedes se tornar o guardião e herdeiro de tudo o que Chico deixou. O imbróglio atingiu até o Memorial Chico Xavier, que será entregue à Prefeitura de Uberaba nesta sexta-feira. Um acordo costurado pelo Ministério Público garantiu ao espaço ostentar o nome do médium.

Apesar de não ter nenhuma participação na construção do memorial e não ter sido consultado, Eurípedes garante presença na cerimônia em Uberaba.

— Não temos nada a ver com essa história. Fiz o museu particular do meu pai na casa onde ele morou. Vamos ao evento mesmo assim. Todas as homenagens são bem-vindas, desde que feitas do coração — assinalou.

A ação de Eurípedes corre em segredo de justiça.

— Eurípides Higino, que sempre se apresentou como filho adotivo de Chico Xavier, agora, passados 14 anos da morte do médium, entrou na Justiça com uma ‘Ação declaratória de reconhecimento de filiação socioafetiva post mortem’. Quer que a Justiça, por sentença, faça aquilo que o Chico não fez enquanto estava vivo, e poderia ter feito se assim o desejasse, que era tê-lo adotado legalmente — observa o advogado Eduardo Silveira Martins, que defende os interesses de Caio Lúcio, sem entrar em detalhes.

O advogado nega que o sobrinho de Chico Xavier tenha interesses comerciais na contestação. Segundo ele, Caio Lúcio apenas pretende manter o uso do nome do médium livre. Chico abriu mão de todos os direitos autorais em mais de 400 livros psicografados.

— Ele (Eurípedes) pretende também obter o direito de ser o protetor da honra, nome e imagem do Chico Xavier, direito que entendemos que ele não possui — acrescentou Silveira Martins.

Eurípedes, porém, nega que a intenção de ser reconhecido como filho seja para ter plenos direitos sobre a ‘grife’ Chico Xavier.

— Já sou dono da marca patente Chico Xavier desde 1998, assinado em vida pelo Chico — pondera.

Eurípedes dirige o Grupo Espírita da Prece e o Museu Chico Xavier, instalado onde o médium viveu grande parte de sua vida, em Uberaba. A casa conserva utensílios e móveis utilizados pelo médium. Uma livraria também funciona no imóvel. Perguntado sobre as acusações de que com o domínio da marca poderá se tornar um homem rico, Eurípedes riu:

— Chico disse que eu ficaria rico. Acho que ele acertou.

Alguns parentes de Chico contestam ser Eurípedes, de fato, filho de criação do médium. Alegam que ele teria começado a frequentar o centro do autor de ‘Nosso Lar’ por volta dos 15 anos e que, inicialmente, cuidou da portaria. Somente, muitos anos depois teria passado a morar com Chico. O que se questiona é que Eurípedes por ter pai e mãe biológicos conhecidos, além de ter mantido contato com a família, possa ser declarado filho adotivo.

Mas Eurípedes argumenta que Chico o chamava de ‘filho do coração’, demonstrando o afeto entre os dois. O dentista cuidou do médium em seus últimos anos de vida.

Homenagem permitida

Por ser o administrador do espólio e ter feito o registro da marca, Eurípedes acredita que a direção do Memorial Chico Xavier deveria ter pedido autorização para a homenagem. Mas, sem dar detalhes, ele garante que tudo ficou resolvido em um acordo que contou com o Ministério Público.

A obra, a ser entregue nesta sexta-feira à Prefeitura de Uberaba, custou R$ 6,7 milhões. É resultado de uma parceria dos ministérios do Turismo e Educação, Instituto Chico Xavier e da própria prefeitura. O moderno prédio apresenta biblioteca, galeria, sala de informática, jardim interno e auditório. Uma imagem holográfica de Chico Xavier recepcionará os visitantes.

Um dos responsáveis pela construção do Memorial Chico Xavier, o jornalista Saulo Gomes informou que caberá a Prefeitura de Uberaba mobiliar todo o espaço. Ele acredita que a abertura ao público acontecerá até dezembro. Saulo foi o responsável pela entrevista de Chico Xavier no programa Pinga Fogo, em 1971, na TV Tupi, alcançando uma audiência histórica.

— O visitante terá oportunidade de ver muitos objetos e psicografias do Chico. Estou doando para o acervo o troféu de o Maior Brasileiro de Todos os Tempos, conferido ao Chico pelo SBT. Estou doando também um paletó quadriculado que ele usava, além de muitas outras relíquias — diz Saulo.